Blog dos Livros
Descamuflando a cretinice
Se você já furou uma fila do caixa do supermercado ou casa lotérica esperando o menor sinal de distração de quem estava à sua frente, você é um cretino. Se aproveita de alguém em situação desfavorecida atrás de um bom negócio? Cretinice. Finge dar a outra face para pagar de moralmente superior quando por trás dos óculos escuros está, na verdade, se roendo de ódio do mesmo jeito que um desenho animado? Gosta de compartilhar uma fofoquinha todos os dias como quem toma o café acompanhado de pão com manteiga? Não se importa de sentar em um assento reservado? Bingo! Cretinice é uma constante. Está por toda parte. E ninguém está imune.
É o que frisa o escritor e filósofo paulista André Luiz Leite da Silva, natural de Itararé, cidade localizada na divisa do Estado de São Paulo com Paraná. Escrivão de polícia civil há mais de 20 anos, o autor deságua numa investigação acerca das idiotices que foram naturalizadas pelas pessoas, o que resultou no primeiro volume do “Manual do cretino” (Editora Grupo Atlântico, 228 páginas), sua 24ª. publicação, entre 43 livros escritos. Além da publicação em português –com circulação no Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde- a obra está sendo traduzida para outras duas línguas: inglês e espanhol. Há também planos para que ganhe versões em italiano, francês, alemão e chinês.
O livro é composto por 106 artigos, como um código penal. Para cada artigo, um mal e uma sentença. Sentenças aplicadas de acordo com cada significado da palavra cretino presente no dicionário –afinal, não é porque todos são cretinos, que são os mesmos. Seu manual também é escrito em primeira pessoa, com pontuais intervenções sobre algumas das situações retratadas (e coordenadas) –acontecimentos incômodos que ocorrem no dia a dia e que sequer são percebidos. Eventos e aspas testemunhados pelo autor aparecem ao longo dos artigos, onde não são poupados os sujeitos ou o próprio leitor.
Como policial, André Luiz trabalhou em importantes delegacias da capital paulista, como nos Jardins, Mooca e Santa Cecília, sendo esta que abrange a área da Cracolândia, atuando no local de 2013 a 2019. Além disso, ainda trabalhou no Departamento de Investigações sobre Narcóticos e no Departamento Estadual de Investigações Criminais.
Como é formado em Filosofia, André Luiz faz uso da ciência do pensamento para investigar gestos, ações e crenças. Platão, Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho, Descartes e Nietzsche são suas principais referências literárias, embora confesse que para este “Manual do cretino” não tenha inspiração de uma obra específica, mas de sua rotina na Delegacia de Polícia. O autor passou a escrever em 2014, publicando em redes sociais sob incentivo de sua esposa, Joana Marcela. Desde então, ele não parou mais e mantém o ritmo: escreve uma média entre 5 e 6 livros todos os anos. Seu próximo livro, “Pescador de Ilusão,” será lançado pela mesma editora.
Trecho:
“Tolerar opiniões diversas é tarefa para espíritos evoluídos. Entender de diversidades é tarefa para espíritos evoluídos. Um cretino raiz, que tem nos monetes, e nas planícies, passa por cima, por baixo, pelo lado e, interessa somente sua opinião. Se quer conversar ou dialogar com gente assim, o bom mesmo é emparelhar os assuntos, concordar com as frases, e, quando for inevitável, pois sempre será, precisa usar de habilidades e eufemismos para aliviar as tensões, caso contrário, os arranhões virão, alguns causam, inclusive ferimentos graves e cicatrizes.”
(Página 175)
PRÊMIO NOBEL
”Todos somos gênios,” recente lançamento da Editora Outro Planeta, escrito por Andrew Maltés e Arturo Torres, conta para crianças as experiências de 31 ganhadores do Prêmio Nobel. Os autores reuniram personalidades que mudaram a história mundial para mostrar para as crianças que todas nascem geniais e com capacidade de transformarem o mundo, independente da área que pretendem estudar. O livro mostra que explorar, brincar e fazer muitas perguntas são importantes para desenvolver um talento.
NOMES AOS DEDOS
O livro começa perguntando por que apenas os dedos das mãos têm nomes? Fura-bolo, mata-piolho, seu-vizinho....E os dedos dos pés? “A revolta dos pés” (Editora Moderna, 80 páginas), escrito por Ricardo Chaves Prado e ilustrado por Daniel Almeida, é uma divertida história que começa embaixo da mesa e termina com uma música. É uma revolta que pretende colocar os dedos dos pés em igualdade com os das mãos.
Leituras:
“Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas suas respostas.”
(Voltaire -1694-1778-, escritor, historiador e filósofo iluminista francês, famoso por sua sagacidade e suas críticas ao Cristianismo, especialmente à Igreja Católica Romana).
Destaques:
NÓS TAMBÉM FALAMOS PORTUGUÊS
Autora: Avani Souza Silva
O livro traz histórias que são contadas nos países onde se fala o português: Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Princípe e Timor-Leste. A autora recria as histórias por meio da linguagem que lhe é própria: o valor dado à oralidade, ao bom-humor e à criatividade. Avani Souza Silva cursou a graduação, o mestrado e o doutorado em Letras, todos na Universidade de São Paulo. É escritora e desenvolve pesquisas sobre cultura e literatura dos países africanos de língua portuguesa.
Editora Martin Claret. 142 páginas. R$ 59,90.
MULHERES DE MINHA ALMA
Autora: Isabel Allende
Neste livro, a grande autora chilena nos convida a acompanhá-la nessa viagem pessoal e emocional em que rememora seus vínculos com o feminismo desde a infância até hoje. Relembra algumas mulheres imprescindíveis em sua vida e fala das mulheres que a inspiraram e acompanharam ao longo da vida. Nascida no Peru em 1942, passou a primeira infância no Chile. Depois do golpe militar de 1973, no Chile, exilou-se na Venezuela e desde 1987 vive na Califórnia. Em 1982, seu primeiro romance, “A casa dos espíritos,” tornou-se um dos títulos míticos da literatura latino-americana. Sua obra foi traduzida para quarenta idiomas e mais de setenta milhões de exemplares foram vendidos, o que faz dela a mais lida escritora de língua espanhola. Recebeu mais de 60 prêmios internacionais.
Editora Bertrand Brasil. 179 páginas. R$ 64,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul).