Blog Do Mistério

O elfo na prateleira

14/12/2023 09:04 - por Gisele Wommer

Clara sempre se encantava com a magia do Natal. A cada ano, uma tradição curiosa a intrigava profundamente: o elfo na prateleira. Os pais tinham visto aquilo na televisão uma vez e adotaram como uma brincadeira interna. Os olhos castanhos da menina brilhavam ao ouvir a história do boneco observador que relatava as travessuras das crianças ao Papai Noel. Seus pais reposicionavam o elfo em locais inusitados todas as noites e Clara sempre achava que era o próprio boneco que se mexia.

No entanto, algo peculiar começou a acontecer naquele dezembro quente. O elfo, outrora um objeto inanimado, parecia ter adquirido vida própria. Os relatos dos pais de que o elfo se movia durante a noite passaram a ser uma realidade inegável. Clara, normalmente encantada com o espírito natalino, começou a sentir um calafrio percorrer sua espinha toda vez que passava pela prateleira onde o elfo, por vezes, repousava.

A cada amanhecer, o elfo aparecia em posições mais desconcertantes. Às vezes, estava de cabeça para baixo; outras vezes, parecia encarar Clara com olhos penetrantes.

Na véspera de Natal, Clara acordou de um sono agitado ao ouvir um sussurro abafado vindo da sala. Ela desceu as escadas silenciosamente e encontrou o elfo em pé, os olhos brilhando em um tom pálido e perturbador. Antes que Clara pudesse se afastar, o elfo apontou para um presente, um pequeno pacote envolto em papel vermelho e dourado, que Clara tinha certeza absoluta que antes não estava ali.

Tremendo, Clara abriu o presente, pois sua curiosidade foi maior do que o medo. Seu coração acelerou quando viu uma aranha negra e brilhante dentro da caixa. Antes que pudesse reagir, a aranha saltou e a picou. Clara sentiu uma dor aguda e tudo girou ao seu redor. Ela desmaiou com a sensação de pânico se intensificando.

Quando acordou, Clara estava deitada em sua cama, suando frio. Ela olhou para o braço e viu uma marca estranha, como se tivesse sido picada por algo. Ela se sentou abruptamente, tentando entender o que aconteceu. Tudo parecia ter sido um sonho vívido e assustador.

Contudo, ao se preparar para guardar suas coisas, Clara notou algo brilhando na prateleira. Os olhos do elfo, novamente iluminados com um brilho avermelhado, fixavam-se nela. Um arrepio percorreu sua espinha. Ela hesitou por um momento e, ao tocar no elfo, uma sensação gélida a invadiu. Em um piscar de olhos, os olhos do elfo voltaram ao normal, e Clara sentiu um alívio momentâneo.

Embora tudo parecesse ter sido um sonho, a marca da picada em seu braço permanecia, uma lembrança assustadora daquela noite. Clara guardou o elfo na caixa de decorações de Natal com um misto de temor e alívio, mas a imagem dos olhos brilhantes continuaria a assombrá-la em suas memórias, transformando a noite em uma experiência, mesmo que surreal, deixou uma marca indelével em sua mente. 

O triste foi entender que, por alguma razão sombria e macabra, naquele ano, o elfo não foi controlado pelos pais. Clara havia decidido dizer aos dois que não acreditava mais em Papai Noel e, portanto, não era mais necessário fazer a brincadeira do elfo.

 

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