A cidade de Piratini, um dos importantes palcos da Revolução Farroupilha, herdou bem mais do que páginas em livros de história. A passagem dos farrapos pelo local deixou de legado várias lendas. Uma delas, conta sobre um certo naufrágio na lagoa negra.

Dizem que um trágico acontecimento envolto em mistério e até mesmo em elementos satânicos alimenta o imaginário popular até hoje. Existem diversas versões, mas a mais sombria delas, lança luz sobre um encontro fatídico, mais ou menos assim:

Era uma noite sombria quando uma caravana de carretas puxadas por bois retornava de Montevidéu, onde uma valiosa carga de cerveja, produzida pelo enigmático açoriano Lucindo Manoel de Brum, de Piratini, fora vendida. O regresso da jornada trazia consigo cerâmicas, porcelanas e valiosas mercadorias uruguaias.

O temor de serem emboscados por salteadores e malfeitores castelhanos os levou a adotar uma estratégia, escondendo o dinheiro proveniente da venda da cerveja em guampas bovinas, tradicionalmente usadas como cantis para água ou cachaça. Tal artifício já havia salvado a caravana em ocasiões anteriores.

À medida que se aproximavam de Piratini, uma tempestade de proporções aterradoras começou a tomar forma nos céus, empurrando os condutores das carretas a apressar o passo. Na pressa, ao atravessar a Lagoa Negra (assim chamada devido à escuridão provocada pelas imponentes árvores circundantes), um dos carreteiros teria usado sua aguilhada com excesso de violência, acusando o boi exausto, ao mesmo tempo em que proferia palavras amaldiçoadoras, nomeando o coisa ruim.

O que ocorreu em seguida é um mistério que nunca se resolveu completamente. O carro de bois naufragou nas profundezas escuras da Lagoa Negra, que estava a dezenove quilômetros de Piratini, no remoto distrito conhecido como Passo do Alfaiate. O carreteiro encontrou seu trágico destino nas águas sombrias da lagoa, enquanto os chifres, repletos de moedas de ouro, desapareceram nas profundezas. Conta-se que tal acontecimento teria sido uma artimanha do próprio demônio, enfurecido por ter sido provocado e perturbado.

De lá para cá, muitos pescadores relataram ter ouvido clamores desesperados nas imediações da lagoa, supostamente vozes que imploravam por socorro. Também há relatos de aparições de fantasmas. E, claro, ao longo dos anos, não faltou quem se aventurasse a encontrar as moedas perdidas, mas ninguém obteve sucesso.

O certo é que, a Lagoa Negra continua a esconder seus segredos nas sombras de sua história enigmática.