Blog do Cinema
Zootopia 2: uma alegoria animal
Em 2016 a Disney lançou um filme de animação aparentemente simples, com bichinhos da natureza vivendo na cidade grande. A produção se revelou uma das alegorias sociais mais inteligentes e explícitas do estúdio sobre preconceito e convivência. Agora, quase uma década depois, chega à sua sequência, “Zootopia 2”, ainda mais ambiciosa, que expande aquele universo ao mesmo tempo em que aprofunda suas metáforas.
De fato, poucos filmes infantis conseguiram ser tão diretos e eficazes quanto o original “Zootopia” (2016), um filme engraçado e encantador cujas metáforas sociais nos fizeram refletir profundamente. Esta continuação vai além ao apresentar uma alegoria social ainda mais complexa e um universo bem maior. A ambição, porém, acaba pesando. A trama é tão intrincada que facilmente poderia ser enxugada em uns 15 minutos sem perder força.
Estamos de volta ao mundo mágico de Zootopia, onde todos os animais vivem juntos, grandes e pequenos, presas e predadores. Na trama, a coelha policial Judy Hopps e seu parceiro, o raposo Nick Wilde, agora oficiais consolidados no Departamento de Polícia de Zootopia, embarcam em uma nova aventura para perseguir o réptil vilão Gary pela cidade, enquanto tentam limpar seus nomes após serem incriminados por um crime que não cometeram. Essa premissa serve de base para uma jornada cheia de perigos e reviravoltas, explorando temas de confiança, preconceito e cooperação em uma sociedade diversificada.

Apesar do peso excessivo de sua mensagem moral, constantemente reafirmada ao longo da história, "Zootopia 2" consegue ainda assim ser engraçado, dinâmico e extremamente divertido. Há inclusive um certo toque de sensibilidade que há muito tempo parece faltar em outras animações da Disney. Na verdade, o enredo é apenas uma desculpa para uma série de episódios hilariantes com personagens animais encantadores, tanto antigos quanto novos. Embora nenhuma cena individual alcance o brilhantismo da sequência clássica do filme anterior, com o funcionário do Detran bicho-preguiça, cujo nome ironicamente é Flash e que faz uma aparição bem-vinda na sequência, “Zootopia 2” apresenta uma série de piadas hilárias que mantêm o ritmo acelerado.
Como muitos filmes de animação contemporâneos, há diversas referências à cultura pop, mas as que aparecem aqui são realmente engraçadas, mesmo que passem despercebidas pelo público mais jovem. Uma delas é a cena de perseguição em um labirinto, igualzinha à de “O Iluminado”. A sequência apresenta tantos personagens animais e ambientes que serão necessárias várias visualizações para absorver tudo. As piadas se sucedem em ritmo acelerado, sem dar a mínima para quem tem pouca paciência, o que pode ser um ponto positivo para os fãs ávidos, mas exaustivo para outros espectadores.
No geral, "Zootopia 2" equilibra bem suas ambições narrativas com o entretenimento puro, expandindo o universo de forma criativa, ainda que com alguns tropeços na execução. É uma animação que diverte e provoca reflexão, provando que a Disney ainda sabe criar mundos encantadores cheios de lições valiosas, mesmo que nem sempre de forma sutil.

Encontrou algum erro? Informe aqui