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Avatar – Fogo e Cinzas: Pandora perde o encanto
Longe de ser apenas uma repetição de fórmulas conhecidas, “Avatar: Fogo e Cinzas” (Avatar: Fire and Ash) revela-se, paradoxalmente, um capítulo menor dentro de uma das franquias mais ambiciosas do cinema contemporâneo. O terceiro filme da saga idealizada por James Cameron não apenas abdica do impacto visual sem precedentes que definiu seus antecessores, como também carece da inventividade narrativa que sustentava o encanto inicial de Pandora.
Há, inclusive, uma curiosa reversão de expectativa, pois “O Caminho da Água” havia se mostrado ainda mais deslumbrante do que o “Avatar” original, elevando o patamar técnico e sensorial da série a um nível que este novo capítulo não consegue sustentar.
A trama retoma os acontecimentos a partir do desfecho do primeiro “Avatar”, acompanhando a família de Jake Sully em um momento de luto, rearranjo e reconstrução. Após o confronto mais devastador com as forças coloniais da Administração de Desenvolvimento de Recursos, Jake, Neytiri e seus filhos enfrentam as consequências humanas, culturais e emocionais da guerra, em especial a morte de Neteyam, assassinado pelos chamados “Povo do Céu”.
É nesse contexto que “Fogo e Cinzas” propõe refletir sobre a reconstrução coletiva após a perda, ampliando o conceito de “pessoas” para além da humanidade, incorporando povos, culturas e modos de existência inteiros atravessados pelo trauma.
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Em tese, trata-se de um tema coerente com a premissa central da franquia, que desde o início se propôs a discutir transformação, pertencimento e a tensão inerente aos processos de mudança. No entanto, este é o primeiro filme da série que não consegue desenvolver tais ideias de forma verdadeiramente significativa ou transformadora.
Falta-lhe a grandiloquência emocional e simbólica que conferia densidade dramática aos dois capítulos anteriores. Mesmo operando em escala monumental, assinatura inconfundível de Cameron, o filme se acomoda em uma estrutura narrativa mais previsível, menos ousada e surpreendentemente contida para os padrões que a própria franquia estabeleceu.
O contraste com os filmes anteriores torna-se, assim, inevitável. O “Avatar” de 2009 possuía um brilho quase cintilante ao apresentar Pandora como um mundo vivo, orgânico e sensorialmente envolvente. Já “O Caminho da Água” (2022), embora marcado pela familiaridade temática, ainda hipnotizava o espectador com suas longas sequências subaquáticas e uma imersão visual que beirava o estado contemplativo.
Em “Fogo e Cinzas”, contudo, essa trajetória parece atingir um ponto crítico. Quanto mais Cameron aprofunda sua aposta no universo sintético do CGI, mais se distanciam os elementos sensíveis da experiência humana concreta.
Aqui, a desconexão com a realidade “offline” torna-se praticamente irreversível. Pandora permanece visualmente exuberante, rica em detalhes e efeitos, mas emocionalmente distante e menos capaz de gerar empatia duradoura. Considerando que o projeto prevê ao menos mais dois filmes, a pergunta que se impõe é inevitável: superado o impacto da novidade tecnológica, haverá ainda fôlego e interesse massivo da audiência para uma experiência que parece ter perdido parte de seu encanto primordial?
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