Blog Da Poesia

Mário de Sá Carneiro

05/04/2023 11:40 - por Tiago Vargas

Mário de Sá Carneiro nasceu em Lisboa, no dia 19 de maio de 1890. Foi considerado ao lado de Fernando Pessoa, um dos maiores escritores da literatura portuguesa e um dos expoentes do modernismo no país lusitano. Entre os anos de 1912 e 1916 compôs a maior parte de sua obra literária deixando uma inestimável e valorosa contribuição por meios de livros como, Princípio (novelas - 1912), Memórias de Paris (coletânea de memórias - 1913), A Confissão de Lúcio (romance - 1914), Dispersão (poesia – 1914) e o último publicado em vida, Céu em Fogo (novelas – 1915), além das correspondências trocadas com Pessoa, postumamente organizadas e publicadas em dois volumes em 1958 e 1959. Em sua poesia destacou-se uma peculiar ironia autosarcástica . A melancolia e o descontentamento também foram temas recorrentes em sua escrita. Mário de Sá-Carneiro suicidou-se no Hotel de Nice, em Paris, no dia 26 de abril de 1916.

Morte, que mistérios encerras?...
Ninguém o sabe...
Todos o podem saber... 
Basta ir ao teu encontro,
corajosa,
resolutamente,
que nenhum mistério existirá já!
Mário de Sá-Carneiro

 

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
[...]

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo
Mário de Sá-Carneiro

Quase
Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
Assombro ou paz? Em vão… tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido…
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão…
Mas na minhalma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo… e tudo errou…
– Ai a dor de ser – quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…
Momentos de alma que desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram, mas que não fixei…
Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei, mas não vivi…
Um pouco mais de sol – e fora brasa,
Um pouco mais de azul – e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir… Onde acoitar-me?…
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar…

 

Faça seu login para comentar!