Blog dos Livros
Mulheres entre luz e sombra
A vida do escritor japonês Osamu Dazai foi muito conturbada. Envolveu-se com gueixas, foi expulso de casa, viciou-se em álcool e morfina, tentou o suicídio diversas vezes, acabou suicidando-se. Não só, porém, a conturbação é o que faz brilhar a aura do autor. Na verdade, isso é o que menos importa no fim das contas. A grandeza de Dazai está em seu mérito literário.
“Declínio de um homem,” seu romance mais celebrado, inclusive tendo sido adaptado para dois mangás, e publicado pela Estação Liberdade em 2015, é um sucesso absoluto. Em pouquíssimo tempo, já recebeu várias reimpressões.
“Mulheres” (Editora Estação Liberdade, 272 páginas, R$ 68,00) mantém a qualidade. São catorze contos, todos eles narrados por mulheres. A façanha, embora arriscada para um escritor homem, é exercida com maestria por Dazai, generoso ao deixar que sua voz seja tomada por essas vozes femininas.
Os que as narradoras, e as outras nove que completam os catorze contos do livro, têm em comum, além do fato de serem todas mulheres? Vivem nas sombras, na escuridão, umas por força maior, outras porque assim desejam. E muitas delas, mesmo as que preferem passar despercebidas, dão um jeito, hora ou outra, de qualquer iluminação, seja factual, com uma vela ao jantar pobre em família ou uma saída ao sol depois de um problema na pele; seja imaterial, com o brilho da esperança pelo que ainda está por vir após as trevas.
Osamu Dazai, cujo nome verdadeiro era Tsuhshima Shuji, nasceu em Kanagi, Japão, em 19 de junho de 1909. Estudou literatura francesa na Universidade de Tóquio, de onde foi expulso, e sempre teve uma vida familiar atribulada. De saúde frágil e com recorrentes problemas financeiros, tornou-se alcoólatra, teve várias internações hospitalares e viciou-se em morfina.
A literatura foi um de seus poucos refúgios. Durante a Segunda Guerra Mundial, conseguiu, como poucos, publicar um volume considerável de sua ficção, a despeito da forte censura japonesa naquele período. Faleceu às vésperas de completar 39 anos, junto com sua amante na época, Tomie Yamazaki, jogando-se no rio Tama, em Tóquio, em 13 de junho de 1948.
Trecho:
“Diferentemente do passado, ele não se cansou de me bajular, me deixando envergonhada e desconfortável. Dizia que eu estava bonita, elegante, e por aí afora. Coisas insuportáveis e claramente obsequiosas. Era como se eu fosse sua superior ou algo do tipo. Empregava palavras de uma polidez excessiva. Ele se voltou para meus pais e começou a falar sobre os meus tempos de escola elementar de forma desagradável e repetitiva.”
(página 142)
CUIDANDO DOS PEQUENOS
Escrito por Anna Claudia Ramos, “Fada-bebê” (Editora Nova Fronteira, 36 páginas, R$ 54,00) é uma história que fala sobre as dificuldades e alegrias de se cuidar dos pequenos. Anna Cláudia é autora, entre outros, de “Hoje é amanhã” e “Água, Gaia, Fogo e Ar,”que abordam a descoberta do mundo pelas crianças, sempre contando com a participação amorosa dos pais. As ilustrações são de Simone Matias.
PERÍODO DE INCERTEZAS
“Anistia” (Editora HarperCollins, 176 páginas, R$ 49,90), de autoria de Pedro Süssekind, conta a situação vivida por muitas famílias durante os anos de ditadura militar no Brasil, mostrando como seus efeitos se desdobraram pelas gerações seguintes, que reconstroem suas vidas a partir de incertezas. A história acontece em 1979. Luis, pai de Emílio, é um dos desaparecidos dos anos de chumbo e sua ausência de repente é motivo de descobertas de um passado que não era conhecido.
Leituras:
“Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.”
(Martha Medeiros, escritora gaúcha, reconhecida como uma das melhores cronistas brasileiras, com obras famosas como “Divã,” “Doidas e Santas” e “Feliz por nada.”).
Destaques:
CASA DO POETA RIO-GRANDENSE -47 ANOS
Organizadora: Ieda Cunha Cavalheiro
Conforme a organizadora, nesta obra, comemorativa aos 47 anos da entidade, os participantes publicam suas marcas de ficção ou realidade, “demonstrando sua confiança de que a publicação de seus textos está sob o bom telhado da casa onde, se chove, é apenas a confraternidade de ideias, independente da diferença entre o sonhado e o realizado, trazendo a nossas mãos, textos do mais simples ao mais complexo.” O homenageado da obra é o escritor gaúcho Moacyr Scliar.
Editora Caravela. 176 páginas.
BEIRA DE AÇUDE
Autor: Alcione Sortica
Segundo o próprio autor, mais do que um livro que reúne causos de pescadores, talvez contados à beira de um açude de verdade ou em alguma querência do sul do país, as histórias, contos e crônicas trazem as mazelas da vida simples, apimentadas pelas relações humanas. Natural de Cachoeira do Sul, Alcione Sortica escreveu contos, poesias, crônicas e ensaios literários em antologias, coletâneas, jornais, revistas e sites. Publicou, entre outros livros, “Cacos do tempo,” “ Um ponto no tempo,” “Plenilúnio,” “Peneirando estrelas” e “De pai para filho.”
Editora Papyrus. 223 páginas.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)