Em “O som do tapa” (Editora Patuá, 112 páginas, R$ 40,00), a capixaba Carla Guerson faz  a sua estreia na literatura,   destrinchando  os impactos causados  pelos diversos tipos de violência,   muitas vezes invisíveis,  na subjetividade das mulheres.  Ao longo de 28 contos,  a  escritora aborda temas  como solidão, estupro, violência doméstica, perdas, maternidade, relacionamentos abusivos,  sobrecarga feminina, conflitos familiares, sexualidade,  autoimagem,  entre outros assuntos,  um verdadeiro  apanhado sobre o que é ser mulher na nossa sociedade.

O    conto   que intitula a coletânea deixa claro o estilo da autora: sua escrita é direta, envolvente, contempla medos e  segredos comuns às mulheres. Suas personagens femininas são marcantes e abrangem diferentes faixas etárias e classes sociais,  apresentando uma seleção muito rica de tipos femininos,  desprovidos de romantização. 

Carla Guerson  também se dedica  a captar fatos pequenos, cotidianos,  muitas vezes desprezados pela literatura padrão, que são recorrentes na vida das mulheres. Em todos os contos, percebe-se uma voz  que almeja  entender e romper  os padrões. 

Para a poeta mineira  Thaís Campolina,  trata-se de um livro protagonizado  por mulheres desabando, deslocadas no mundo que vivem,  fora daquilo que esperavam delas ou de si mesmas. “Mesmo com experiências, idades, situações financeiras e sociais diferentes entre si, as vidas dessas personagens se entrelaçam no livro pelo que elas têm em comum: o impacto na subjetividade que o machismo e outras questões pessoais ou sociais  que atingem algumas mulheres específicas podem trazer,” afirma Thaís.

Feminista e  estudiosa  do feminino, Carla  se dedica a  ler  e  divulgar obras literárias  escritas por mulheres desde 2016. Nascida em Vitória (ES), onde reside,  escreve contos, crônicas, poemas e tem textos publicados em diversas  revistas literárias, coletâneas e antologias. “Todos  os contos levam algo de mim. Mesmo os que não têm   nada de autobiográfico, são escritos a partir da minha percepção, do que eu vejo, do que eu sinto, de como eu me colocaria  naquela situação. Eu gosto de tentar me colocar no lugar do personagem,  de  viver na sua pele,” afirma ela. 

Trecho:
“Mas foi no dia que o médico me contou o   seu sexo que o meu mundo começou  a  desmontar. Porque eu não sabia o que eu podia providenciar  para te preparar para ser mulher aqui junto comigo. Eu não sabia como te contar das coisas que passei e como te ensinar  o que eu nunca aprendi. E por isso eu chorei, e  ainda choro.”
(página 100  )

VIAGENS DE DOM PEDRO
Escrito pelo escritor e  historiador gaúcho Rodrigo Trespach, ”Às margens do Ipiranga: a viagem da Independência –a jornada de dom Pedro, do Rio de Janeiro a São Paulo, em agosto e setembro de 1822”  (Editora Citadel, 224 páginas,  R4 44,95) conta as histórias fascinantes das viagens de dom Pedro  em dois meses, quando percorreu mais de 1,4 mil quilômetros em cima de uma mula.  Em um texto envolvente,  com base em uma sólida pesquisa documental, o autor narra o que acontecia em cada viagem, os locais em que esteve, o que fez  e as decisões que tomou, como, por exemplo, o grito da Independência.  

BANQUETE DA DIVERSIDADE 
“Um    banquete    Tropical: temas de etnoalimentação” (Editora Cepe, 264 páginas, R$ 60,00) se propõe  a  oferecer ao leitor um encontro com ingredientes, processos culinários e receitas de comidas e  de bebidas, revelando em 78 artigos símbolos e significados que ampliam o paladar  de cada alimento. Como diz Maira de Lourdes de Azevedo Barbosa no prefácio, trata-se de um verdadeiro banquete da diversidade, da pluralidade do fazer, do servir e do comer, com rituais para o cotidiano e para festas.  O autor é Raul Lody, que comemora 50 anos de escritor com este livro. 

Leituras:
“A sabedoria é um paradoxo.  O homem que mais sabe é aquele  que mais reconhece  a  vastidão  da sua ignorância.”
(Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo,  crítico cultural, poeta e compositor alemão, autor de vários textos  criticando a  religião, a moral e  a cultura contemporânea). 

Destaques:
O PÁLIDO OLHO AZUL

Autor: Louis Bayard

August Landor, um detetive  experiente e aposentado,  é chamado para investigar  um crime brutal. Ele consegue recrutar um  aliado surpreendente: um cadete temperamental, com gosto por bebida, autor de dois livros de poesia e um passado obscuro. Seu nome é Edgar Alan Poe. O autor tem diversos best-sellers  do The New York Times e é conhecido  por escrever romances históricos.  “O pálido olho azul” virou filme da Netflix  e  é estrelado por Christian Bale.
Editora Planeta.  416 páginas. R$ 74,00.

                                                                                                                                                                                                
ENCLAUSURADO     

Autor:  Ian McEwan

O livro é considerado  uma amostra sintética  do impressionante  domínio narrativo do autor,  um dos maiores prosadores da atualidade. Humor, inteligência e  uma espantosa criatividade  saltam das páginas. Os livros de Ian McEwan,  nascido em Aldershot, Inglaterra, em 1948,  já lhe renderam uma série de prêmios literários,  entre eles o Man Booker Prize  e o Whit-bread Award. 
Editora  Companhia das Letras. 112 páginas.  R$ 39,90.

(As obras apontadas  no Blog dos Livros  podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente,  na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul)