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Alphonsus de Guimaraens

16/03/2022 08:20 - por Tiago Vargas

Alphonsus de Guimaraens nasceu em 1870 em Ouro Preto, Minas Gerais. Foi autor de obras clássicas de nossa literatura como Dona Mística e Pastoral aos crentes do amor e da morte. Sua escrita se caracterizou pelo misticismo e pelo uso recorrente de temas como a dualidade amor e morte. Seu versejar foi influenciado pelos franceses Verlaine e Mallarmé. Poetas que traduziu para a língua portuguesa. Guimaraens foi um dos mais emblemáticos escritores do movimento simbolista no Brasil. Movimento que teve inicio com a publicação de Missal e Broquéis de Cruz de Souza em 1893 e durou até o início do pré-modernista em 1910.

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Árias e Canções
II
A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,
Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à luz celeste e clara.
Como em órbitas de fatias caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,
Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.
E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu que nem sei de cor uma só prece!
Pobre alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.
Alphonsus de Guimaraens

Ismália 
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimaraens

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Prazer de existir
A roda dos ciclos gira
Percorreu muitas trilhas
De tormentas e calmarias
Domou e ressignificou dores
Nos territórios afetivos
Povoados de presenças
Habitam muitos rostos
Vozes e aconchegos
Nas varandas do seu coração
Crescem jardins de verbenas
Ervas lançam curas
Portas ensolaradas abrem-se
Rompendo ilusões, renova-se,
Ensaia um sorriso Monalisa
Rememora realizações
Dança, celebrando seu ciclo
Entregando-se ao gozo e deleite
Ao puro prazer de existir
Morde a maçã de ouro
Colhida no Jardim das Hespérides
A vida gaivota livre
Carpe, carpe diem
A poiésis da sua alma a aquece.
Magalhe Oliveira

CURUPIRA
Caminhei passo no passo
Em busca do passo passado
Passei por caminhos já dados
No acerto de passos batidos.
Espaços levados a outros
Passos perdidos na estrada,
Perdidos nos pés invertidos
‘Do ente’ pés tortos da mata.
Dilso J. Dos Santos

INFÂNCIA PERDIDA
Esta rua tem um nome...
... É a rua da fome
Das crianças perdidas
Que dormem amontoadas
Sujas
Fedidas
E doentes.
... Crianças...
Que vivem no olho da rua
No olho da chuva
No olho do frio
Vocês
Crianças
Que são vistas com os olhos cegos da humanidade.
Um dia certamente serão as culpadas.
Jorge Ritter

Enlaçados
Voa comigo nos ombros 
da noite
enlaçados como 
dedos e dedos
na ternura completa 
das nossas mãos
Inventamos asas até 
que nos tenham como 
irmãos os pássaros
e as crianças nos persigam
pelo areal - o voo que é 
delas também
Acredita que o nosso olhar 
tocará um dia o horizonte 
com tal força que a nossa 
palavra ficará redonda 
como os ombros desta noite 
em que te convido a descobrirmos
o amor enorme que a maré nos tem 
quando nos cobre os pés e 
nos obriga a nascer!
Ênio Santos

Psicose 
O monstro saiu debaixo da cama
e entrou no conteúdo latente do pesadelo.
Sombras no fundo do espelho
refletem a face obscura da personalidade.
O relógio parado na parede
esqueceu de marcar o tempo
deixando a página do diário em branco.
Ciclos intermináveis de pensamentos 
constroem um mundo imaginário de solidão.
As notas do piano formam uma combinação
que compõem a trilha sonora do nada.
Fantasmas internos projetam na realidade
suas fantasias caóticas e sinistras.
Gabriela Vidal Domingues

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