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Antero de Quental

02/11/2022 08:42 - por Tiago Vargas

Nasceu em Ponta Delgada,  no dia 18 de abril de 1842 na ilha dos Açores em Portugal. Foi um destacado poeta e filósofo, líder intelectual do realismo lusitano que de modo prático contribuiu para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870; ligados a Questão Coimbra  que tinha como premissa, entre outros aspectos romper com os valores do passado, sobretudo com o romantismo. Expressou sua inquietação política, religiosa, metafísica e lírica constituindo-se ao lado de Bocage e Camões como um dos grandes mestres sonetistas da literatura além-mar. Odes modernas foi sua principal publicação. Voz insular de proeminência pessoal.  Em sua poesia instaurou prioritariamente a filosofia como verdade através da própria experiência vestida, por vezes de uma tristeza pungente, sombria "Um sonho gigantesco de beleza/E uma ânsia de ventura o faz na vida/Caminhar, como um ébrio, na incerteza/Do destino e da Terra-prometida…". Antero de quental. Singular.  Peculiar e insurgente.

Nirvana
Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;
Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;
Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!
Antero de Quental

Salmo
Esperemos em Deus! Ele há tomado
Em suas mãos a massa inerte e fria
Da matéria impotente e, num só dia,
Luz, movimento, ação, tudo lhe há dado.
Ele, ao mais pobre de alma, há tributado
Desvelo e amor: ele conduz à via
Segura quem lhe foge e se extravia,
Quem pela noite andava desgarrado.
E a mim, que aspiro a ele, a mim, que o amo,
Que anseio por mais vida e maior brilho,
Há-de negar-me o termo deste anseio?
Buscou quem o não quis: e a mim, que o chamo
Há-de fugir-me, como a ingrato filho?
Oh Deus, meu pai e abrigo! espero!... eu creio!
Antero de Quental

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