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Arnaldo Antunes

16/08/2023 09:25 - por Tiago Vargas

Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho, ou simplesmente Arnaldo Antunes nasceu em 02 de setembro de 1960; Multiartista é músico, poeta, compositor e artista visual. (Difícil defini-lo)

Em 1978 ingressou na FFLCH da USP, onde seguiu o curso de Linguística, mas abandonou o projeto devido ao sucesso estrondoso dos Titãs; uma das bandas de rock mais influentes e importantes da história do Rock nacional. 

Arnaldo permaneceu no grupo por dez anos, desligando-se em 1992.

Conhecido como um dos principais compositores da música pop brasileira, suas influencias (como letrista/e poeta) baseiam-se na arte concretista e pós-moderna.

No entanto, vamos falar sobre sua literatura. Ensaios e poesia. 

Sua poética não dramatizada consiste em agir sobre a realidade palpável buscando incessantemente uma relação entre a forma e o instante/momento. 

As diferentes fontes de diagramação, cores e técnicas iconoclastas (imagens) empregadas resultam numa mescla de recursos não convencionais oriundos de tendências e correntes literárias como a poesia marginal e o já mencionado concretismo.

 Seus textos são influenciados por autores como Paulo Leminski, Augusto de Campos, Décio Pignatari, entre outros...

 A poesia de Antunes se faz essencialmente lúdica, arguta de significados, se convertendo num intenso, plural, infinito e inteligente cabedal de ideias.

Resumidamente, pode-se dizer que é a poesia que reside na brincadeira de esconde-esconde, na metamorfose entre os formatos; letras e palavras.

Trata-se da estranheza poética como adjetivo, como sinônimo de originalidade.

Poesia ordinária e plural, vista de dentro, própria de um diálogo sensível, instigante, inteligente, irreverente, exclusivo, ímpar, sem igual, excêntrico, incomum, raro, sui generis...

Inventivo e inquieto. 

Talvez estes sejam alguns adjetivos que lhe definam. (Difícil defini-lo).  Entre outros...

Boa leitura e bom divertimento.

Poesia concreta: Estilo que explora qualquer recurso de linguagem, aspectos gráficos, visuais, sonoros...

Documentário: A curva da cintura

Alguns livros: n.d.a , agora aqui ninguém precisa de si, psia, as coisas, palavra desordem, Et eu tu

Poemas de Arnaldo Antunes
HENTRE
HOS 
HANIMAIS
HESTRANHOS
HEU
HESCOLHO
HOS 
HUMANOS
Arnaldo Antunes

As coisas
As coisas têm peso,
massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor,
posição, textura, duração,
densidade, cheiro, valor.
Consistência, profundidade,
contorno, temperatura,
função, aparência, preço,
destino, idade, sentido.
As coisas não têm paz.
Arnaldo Antunes / Gilberto Gil

Eu apresento a página branca.
Contra:
Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.
Eu apresento a página branca.
A árvore sem sementes.
O vidro sem nada na frente.
Contra a água.
Arnaldo Antunes

O que foi
O que 
(se) foi
É (s) ido.
Arnaldo Antunes

[Agá]
Agagueiraquasepalavra
Quaseaborta
Apalavraquasesilêncio
Quasetransborda.
Osilêncioquaseeco.
Arnaldo Antunes

Ávida
A eternidade
Dividida
Em vidas
Não interessa
À vida
Só interessa
A eternidade
Inteira
De uma vez.
Arnaldo Antunes

Espelho
Mais que lento: parado
Mais que parado: morto
Mais que morto: não nascido
Mais que isto: inascível
Mais ainda: inconcebível
(o máximo)
Nem sequer sonhável.
Arnaldo Antunes

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