Blog da Poesia
A poesia introspectiva de Sylvia Plath e a cultura pop
Ícone da literatura do século XX, escritora desafiou limites com sua escrita confessional, tocando temas universais como depressão, feminismo e a luta contra o patriarcado.
Sylvia Plath foi uma das escritoras mais importantes do século XX, reconhecida por sua escrita insurgente e visceral.
Com apenas dois livros publicados em vida – um de poesias e outro de romance – sua obra alcançou a imortalidade após sua morte por suicídio, aos 30 anos de idade.
Seu segundo livro de poesias, Ariel, lançado postumamente, tornou-se um marco literário e consolidou sua relevância na literatura mundial.
A escrita da poetisa norte-americana ficou marcada pela teor confessional, pela exposição de suas angustias e por finos traços de humor e ironia.
Mad Girl’s Love Song
“Fecho os olhos e o mundo inteiro cai morto
Abro as pálpebras e tudo renasce de novo
(Eu acho que te imaginei dentro da minha cabeça.)
As estrelas dançam em azul e vermelho,
Um vazio arbitrário galopa cá dentro:
Fecho os olhos e o mundo inteiro cai morto
Sonhei que me enfeitiçavas até à tua cama
Cantando de forma lunática, beijavas-me insanamente
(Eu acho que te imaginei dentro da minha cabeça.)
Deus cai do céu, o fogo do inferno desaparece
Serafins e homens de Satã fogem:
Fecho os olhos e o mundo inteiro cai morto
Gostei de ti da mesma forma que tu disseste gostar
Mas, entretanto, cresci e esqueci o teu nome
(Eu acho que te imaginei dentro da minha cabeça)
Em vez de ti, deveria ter amado uma ave mitológica
Pelo menos, quando a primavera chega, elas voltam sempre.
Fecho os olhos e o mundo inteiro cai morto
(Eu acho que te imaginei dentro da minha cabeça)”
Os Manequins de Munique
A perfeição é terrível, não pode ter filho.
Fria como a respiração da neve, põe um tampão no útero.
Onde os teixos sopram como hidras
A árvore da vida e a árvore da vida
A libertar as suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O fluxo do sangue é o fluxo do amor.
O sacrifício absoluto.
Quero dizer: não há outro ídolo senão eu,
Eu e tu,
Assim, no seu sulfuroso encanto, nos seus sorrisos
Estes manequins dormitam esta noite
Em Munique, a morgue que fica entre Paris e Roma.
Nus e carecas nos seus casacos de peles,
Chupa-chupas de laranja em pauzinhos de prata
Intoleráveis, ocas cabeças,
A neve deixa cair os seus bocados de escuridão,
Não se vê ninguém. Nos hóteis
Mãos estarão a pôr os sapatos
À porta dos quartos para que os engraxem com carbono
Neles hão-de amanhã entrar enormes pés.
Ó a domesticidade destas montras
As rendas de bebé, as folhas verdes de açúcar,
Alemães toscos a passar pelo sono metido nos seus stolz
Largos
E os telefones pretos no descanso
A brilhar
A brilhar e a digerir
Emudecidos. A neve não tem voz.
Carta em Novembro
Amor, o mundo
De repente muda, muda de cor. A luz da rua
Perpassa por entre as vagens do laburno
Que lembram a cauda dos ratos, às nove da manhã
É o Ártico.
Este pequeno circulo
Negro, com estas trigueiras e sedosas ervas — cabelo de bebé
Há uma cor verde no ar,
Suave, voluptuosa
Conforta-me com amor
Estou corada e quente.
Se calhar isto é absurdo,
Sou tão estupidamente feliz,
As minhas galochas
Dão passos ruidosos, atravessam o vermelho maravilhoso.
É a minha propriedade.
Suas vezes ao dia
Percorro-a, cheirando-lhe
O bárbaro azevinho em conchas,
De verdete, ferro puro,
E a parede de velhos cadáveres.
Amo-os.
Amo-os como à história.
As maçãs são douradas,
Imagine-se –
As minhas setenta árvores
A prender as suas bagas vermelho-douradas
Num espesso e mortal caldo cinzento,
Com um milhão
De folhas de metal douradas e sem vida.
Ó amor, Ó celibato.
Mais ninguém senão eu
Caminha com água pela cintura.
As insubstituíveis
Riquezas sangram e afundam-se, as bocas das Termópilas.
Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que havia sarado. Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito. Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa.
Senti vontade de golpear meu coração, arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz.
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XXVIII Prêmio Paulo Salzano Vieira da Cunha De Poemas
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