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Como narrar o inenarrável: A terra desolada, de T. S. Eliot
Thomas Stearns Eliot, ou simplesmente, T. S. Eliot, nasceu em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos, em 1888 e faleceu em Londres, em 1965, aos 77 anos de idade. Norte-americano de origem, recebeu a cidadania inglesa, por ser, em suas palavras, monarquista em política, anglicano em religião e neoclássico em poesia.
Assim como Ezra Pound, seu contemporâneo e amigo, foi um dos principais poetas de vanguarda em língua inglesa na década de 1920, embora profundamente conservador em matéria política, além de ser misógino e anttisssemita. Eliot se sentia desconfortável no mundo moderno, da democracia liberal, da economia capitalista e da separação entre Igreja e Estado: ele defendia um retorno aos valores clássicos da cultura europeia e sua visão de mundo era teocêntrica. Assim como Pound, Pessoa ou Mishima, desprezava o século XX e sentia nostalgia da Idade Média e do Renascimento.
Paradoxalmente, em sua primeira fase criativa, foi um dos expoentes do modernismo nas letras norte-americanas, adotando o verso livre, a linguagem coloquial, citações intertextuais e sobretudo a montagem de fragmentos, à maneira da estrutura ideogrâmica de Pound.
O poema de maior destaque de T. S. Eliot foi A terra desolada, um dos poemas ocidentais mais importante da história contemporânea.
Eis um trecho do poema clássico...
A Terra Desolada
Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.
Sobre o poema:
O poema "A Terra Desolada" (The Waste Land), de T.S. Eliot, é uma obra complexa e multifacetada que explora a crise espiritual e cultural da Europa no período pós-Primeira Guerra Mundial. Ele apresenta uma visão fragmentada e desiludida da sociedade moderna, utilizando uma linguagem rica em referências mitológicas, literárias e históricas para expressar a sensação de perda, alienação e busca por significado em um mundo em ruínas.
Temas Centrais:
- Desilusão e Crise: O poema reflete a desilusão e o desespero do pós-guerra, onde a guerra destruiu não apenas vidas, mas também a cultura e a esperança.
- Fragmentação e Desintegração: A estrutura fragmentada do poema, com suas mudanças bruscas de cenário, vozes e referências, espelha a fragmentação da sociedade e da experiência humana.
- Perda de Valores e Significado: A ausência de propósito e a falta de valores morais e espirituais são temas recorrentes, evidenciados pela decadência da cultura e pela busca infrutífera por redenção.
- Busca por Redenção: Apesar da atmosfera de desespero, o poema também sugere uma busca por sentido e redenção, por meio de referências ao mito do Graal e a outras tradições espirituais.
Estrutura e Linguagem:
- Estrutura em cinco partes: O poema é dividido em cinco partes ("O Enterro dos Mortos", "Um Jogo de Xadrez", "O Sermão do Fogo", "Morte pela Água" e "O que o Trovão Disse") que abordam diferentes aspectos da crise.
- Linguagem rica e complexa: Eliot utiliza uma linguagem elaborada, com referências a diversas fontes, incluindo mitologia, literatura, religião e filosofia.
- Uso de intertextualidade: O poema está repleto de referências a outras obras literárias e culturais, criando um diálogo entre o passado e o presente.
- Verso livre e fluxo de consciência: A utilização do verso livre e da técnica do fluxo de consciência contribui para a sensação de fragmentação e descontinuidade.
Por fim:
A Terra Desolada" é um poema complexo que exige uma leitura atenta e uma compreensão do contexto histórico e cultural em que foi escrito. A interpretação do poema pode variar, mas a crítica geralmente concorda que ele representa a crise da modernidade e a busca por sentido em um mundo fragmentado e desiludido.
Em resumo, trata-se de uma obra-prima da poesia modernista que explora a crise da modernidade, a fragmentação da experiência humana e a busca por significado em um mundo em ruínas.
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