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Cecília Meireles

13/09/2023 09:48 - por Tiago Vargas

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, dia 7 de novembro de 1901.

Foi escritora, jornalista, professora e pintora, considerada uma das mais importantes poetisas do Brasil.

Sua obra de caráter intimista possui forte influência da psicanálise com foco na temática social.

Embora sua obra apresente características simbolistas, Cecília destacou-se na segunda fase do modernismo no Brasil, no grupo de poetas que consolidaram a "Poesia de 30".

Pelo trabalho realizado na literatura ela recebeu diversos prêmios, dos quais se destacam:
- Prêmio de Poesia Olavo Bilac
- Prêmio Jabuti
- Prêmio Machado de Assis

Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva ou não se tem sol,
ou se tem sol ou não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo dinheiro e não compro doce,
ou compro doce e não guardo dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Tentativa
Andei pelo mundo no meio dos homens!
uns compravam joias, uns compravam pão.
Não houve mercado nem mercadoria
que seduzisse a minha vaga mão
Calado, Calado, me diga, Calado
por onde se encontra a minha sedução.
Alguns, sorriam, muitos, soluçaram,
uns, porque tiveram, outros porque não.
Calado, Calado, eu, que não quis nada,
por que ando com pena do meu coração.

Metamorfose
Súbito pássaro
dentro dos muros
caído,
pálido barco
na onda serena
chegado.
Noite sem braços!
Cálido sangue
corrido.
E imensamente
o navegante
mudado.
Seus olhos densos
apenas sabem
ter sido.
Seu lábio leva
um outro nome
mandado.
Súbito pássaro
por altas nuvens
bebido.
Pálido barco
nas flores quietas
quebrado.
Nunca, jamais
e para sempre
perdido
o eco do corpo
no próprio vento
pregado.
Cecília Meireles

 

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