Blog dos Livros
Entre encantos e mistérios
Na década de 1940, diante da brutalidade de seu cotidiano na Espanha fascista, Ofélia, uma menina de treze anos cujos melhores amigos são os livros, é conduzida a um universo mágico, que extrapola os limites entre o sonho e realidade, beleza e horror. Em “O Labirinto do Fauno” (Editora Intrínseca, 316 páginas, R$ 69,90), a escritora Cornélia Funke tece em palavras a inesquecível obra-prima cinematográfica de Guilherme del Toro, em uma combinação perfeita e única.
Para entender melhor, é preciso dizer que Cornélia Funke é uma escritora e ilustradora alemã que se tornou best-seller no mundo inteiro com seus contos de fadas modernos. É autora de “O senhor dos ladrões,” da trilogia “Mundo de Tinta” e da série “Reckleless,” todos sucesso de público e crítica.
Por sua vez, Guilherme del Toro é um dos escritores e cineastas de maior personalidade na indústria cultural americana. É roteirista e diretor do sombrio e fascinante “O labirinto de Fauno,” de “Hellboy,” “Círculo de Fogo” e “A forma da água,” filme ganhador de quatro Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Del Toro é também coautor da série de livros “Trilogia da Escuridão.” Pela Intrínseca, publicou “A forma da água,” obra que expande o universo do filme, e “Caçadores de Trolls,” adaptado para as telas da Netflix.
A escritora Cornélia Funke conta na apresentação do livro que quando assistiu ao filme ele se tornou o exemplo perfeito do poder da fantasia, a prova viva de que a fantasia pode ser poética e política, uma ferramenta perfeita para captar o realismo mágico da existência. Em razão disso, criou dez contos sobre elementos-chave do filme.
Ela diz: “Todos conhecemos livros que se tornaram filmes, e muitas vezes as imagens projetadas na tela nos decepcionam, já que não ficam à altura da riqueza que as palavras evocaram em nossa mente. Mas e se um escritor faz o inverso e transforma seu filme favorito em livro?”
Na obra, Ofélia e a mãe cruzam uma estrada de terra que corta uma floresta longínqua ao norte da Espanha, um lugar que guarda histórias já esquecidas pelos homens. O novo lar é um moinho de vento tomado pela escuridão e pela crueldade do capitão Vidal e seus soldados, dispostos a tudo para exterminar os rebeldes que se escondem na mata.
Mas o que eles não sabem é que a floresta que tanto odeiam também abriga criaturas mágicas e poderosas, habitantes de um reino subterrâneo repleto de encantos e horrores, súditos em busca de sua princesa há muito perdida. Uma princesa que, segundo os sussurros das árvores, finalmente retornou ao lar.
Trecho:
“Não havia medo no coração de Ofélia quando ela calçou os sapatos e seguiu a Fada noite afora. Parecia que já a tinha seguido, e quem não iria atrás de uma fada, mesmo se ela aparecesse na calada da noite? Provavelmente elas sempre apareciam em momentos assim. E não havia escolha a não ser segui-las. Era o que diziam os livros, e não pareciam seus contos mais verdadeiros do que aquilo que os adultos fingiam ser o mundo? Só os livros abordavam todas as coisas sobre as quais os adultos não queriam conversar. Vida. Morte. O Bem e o Mal.”
(Página 144)
À FRENTE DE SEU TEMPO
“Anatomia: uma história de amor” (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 59,90), de Dana Schwartz, conta a história de uma mulher à frente de seu tempo e de um rapaz disposto a tudo pela sobrevivência, em um mistério que tem como palco os cemitérios de Edimburgo, no século XIX. Ela quer se tornar uma cirurgiã e para estudar na Sociedade Real de Anatomistas finge ser um jovem, mas é expulsa quando descobrem sua identidade. Mas para seguir em frente em seus estudos, ela precisa de cadáveres e então se depara com segredos aterrorizantes da sociedade conservadora de Edimburgo.
MULHERES VELHAS
Ambientados na cidade de São Paulo, os 12 contos de “As velhas” (Editora Jandaíra, 128 páginas, R$ 53,00), de Adilia Belotti, remetem a mulheres protagonistas. São velhas que vivem em São Paulo, carregando consigo as jovens que foram um dia: urbanas, apressadas e normais. A cidade ganha protagonismo com suas ruas, sua paisagem urbana, seus espaços comuns e cotidianos, ao mesmo tempo em que incorpora as protagonistas, que sofrem com estereótipos e preconceitos.
Leituras:
“É preciso estudar muito para saber um pouco.”
(Barão de Montesquieu (1689-1755), político, filósofo e escritor francês, famoso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, inclusive a Constituição Brasileira).
Destaques:
PAGEBOY
Autores: Elliot Page
Repleto de detalhes de bastidores e questionamentos sobre sexo, traumas e Hollywood, “Pageboy” é a história de uma vida que chegou ao limite. Uma narrativa sobre a trajetória sinuosa de uma pessoa que lutou para se desvencilhar das expectativas dos outros; uma celebração ao ato de assumir o que se é com rebeldia, força e alegria. O autor é ator indicado ao Oscar, produtor e diretor. Atualmente faz parte do elenco da série de sucesso “The Umbrella Academy.”
Editora Intrínseca. 302 páginas. R$ 59,90.
GIRLS LIKE GIRLS
Autora: Hayley Kiyoko
Hayley Kiyoko é uma premiada cantora, compositora, dançarina e atriz. Ativista pelos direitos LGBTQIAP+, grandes veículos consideram a escritora a vanguarda do pop queer. Seu romance de estreia, “Girls like girls,” é baseado em seu videoclipe de maior sucesso, que viralizou na internet e conquistou milhares de fãs em todo o mundo. É um romance sobre o primeiro amor e aceitação, em meio ao luto e à descoberta da sexualidade.
Editora Intrínseca. 317 páginas. R$ 49,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul).