Em sua estreia literária com “A Torre” (Editora Primata, 116 páginas), a recifense Thaís Alcoforado constrói, a partir dos arcanos maiores do tarot e  de referências clássicas, uma cartografia  lírica sobre traumas, perdas e a potência de transformação que nasce deles. Com prefácio da psicanalista, jornalista e escritora Gabrielle Estevans,  a obra apresenta-se   como um livro-ritual, em que  os versos atuam como oráculos pessoais  e coletivos.  A ilustração da capa  é da artista e poeta Priscilla Menezes.

A  carta que dá título ao livro introduz  sua premissa: o que acontece antes, durante e depois do desmoronamento?  Os poemas seguintes funcionam  como guias diante dos escombros, dos vestígios do que ruiu e  das  frestas de liberação que se abrem no chão da queda.

A autora define  o livro como um experimento de poesia oracular. Para Thaís,  o tarot  é sobretudo  uma ferramenta  de instropecção e  autorreflexão.   Seus poemas nasceram  como escrita de sobrevivência   e gesto de fé no futuro, mas ganharam unidade após as oficinas de Escriterapia, conduzidas por Gabrielle Estevans, onde ela percebeu que os textos   guardavam conexões e poderiam dialogar  com os arcanos.

Ainda conforme diz Gabrielle na apresentação, “Thaís   deixa a própria torre ruir e no vazio que se abre  escuta a linguagem dos sonhos, do corpo e  das cartas.” Segundo ela, o livro é uma catedral portátil para todos aqueles que, de algum modo,  também foram expulsos  de seus territórios.

Recifense  de nascimento e  cidadã  do mundo, Thaís Alcoforado é advogada,  mestre em Direito Internacional  e  especialista em estudos de paz  e  conflito.  Sua carreira  como trabalhadora humanitária    a  levou a viver no Senegal, Irã e  República Dominicana, antes de chegar  ao Panamá, onde atualmente reside. Cercada pela natureza  e por animais, reencontrou a  escrita e o tarot como práticas essenciais da vida.  Foi neste território silencioso e  selvático que “A torre” ganhou forma.

Trecho:

Hefesto
Como a construção
A catástrofe também demanda paciência
Ainda assim, o momento exato do desabamento
Parece sempre repentino
Os acontecimentos teriam sido devastadores
Se eu não tivesse começado a  me preparar
Sem  suspeita
Justo a tempo
Para todo tipo de emergências
Tudo que veio antes, um ensaio
Tudo o que vier depois, uma réplica
Do choque primordial.
(Página 19)

ADÉLIA PRADO EM NOVO LIVRO
Aos 90 anos, a consagrada escritora Adélia Prado está lançando mais um livro: “O jardim das Oliveiras” (Editora Record, 144 páginas). Em versos de grande força simbólica, a poeta  elabora uma reflexão  radical sobre a  origem  da linguagem poética e  seu papel diante do mundo. Considerada a maior poeta viva do  Brasil, em 2024 tornou-se a  terceira escritora brasileira (a primeira mineira)  a  vencer o consagrado Prêmio Camões.

PRÊMIO PRIMAVERA ETERNA 
Estão abertas até 30 de novembro as inscrições  para a primeira edição do Prêmio Literário  Primavera Eterna,  dedicado ao tema “Histórias de Amor,” em todas as suas manifestações. O concurso, promovido pela Editora Typus, em cuja página podem ser buscadas mais informações,  vai distribuir R$ 18 mil em premiações e publicação de um livro com os vencedores. As categorias são conto, crônica, carta, poema, ensaio e fábula. 

Leituras:
“A literatura é, antes de tudo, uma viagem pessoal.”
-José Castello (8 de  fevereiro de 1951), jornalista, crítico literário e  escritor carioca,  um dos nomes mais importantes do debate literário contemporâneo. 

Destaques:       

DOS QUATRO NENHUM SENTOU À CABECEIRA 

Autor: Peter LaRubia

Quarto romance deste escritor carioca. É uma obra que desafia as convenções narrativas ao explorar o peso do não dito, dos mal-entendidos e  das feridas não cicatrizadas dentro de uma família.  Com uma linguagem afiada e  repleta de  subtextos, o autor contrói  uma trama que ecoa  tragédias gregas e questiona até que ponto o silêncio pode ser tanto uma proteção quanto uma arma. Formado em Psicologia e Letras, também é autor dos romances “Terra do nunca,” “Fúria,” e “10 reais & 1 maço de cigarros.”
Editora Patuá.  148 páginas.      

UM SONHO LÚCIDO

Autora: Laura Navarro

Escritora, poeta e pesquisadora, Laura Redfern Navarro lança esta nova obra em que busca  por lucidez  em versos,  entrelaçando paisagens  oníricas com fragmentos  de memória, amor e dissociação. A obra também dialoga  com pautas importantes como o feminismo, através do direito ao corpo e  do rompimento da despersonalização. Graduada  em Jornalismo,  mestrando em Literatura   e  Crítica Literária  pela PUC-SP, possui seis livros publicados.
Editora Orlando. 25 páginas.

(As obras mencionadas  no Blog dos Livros podem ser encontradas na Revistaria e Livraria Nascente, localizada na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)