Blog dos Espíritos
Fé raciocinada
Conceituando a fé
Podemos conceituar fé como a firme opinião de que algo é verdade pela absoluta confiança que depositamos nesta ideia ou na fonte de sua transmissão. Para Emmanuel, na obra “O Consolador”: “Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da razão, tocados pela luz do sentimento”.
No Capítulo XIX de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, temos a seguinte passagem que esclarece o conceito de fé raciocinada na visão espírita: “A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. A esse resultado conduz o Espiritismo, pelo que triunfa da incredulidade, sempre que não encontra oposição sistemática e interessada”.
A fé e a razão
Fé é a confiança do homem nos seus destinos, é o sentimento que o leva na direção de um Ser Maior, é a certeza de que está seguro no caminho que irá conduzi-lo à verdade. A fé cega é como uma luz fraca que não consegue atravessar o nevoeiro; a fé esclarecida e raciocinada é como um farol forte, que ilumina a estrada a percorrer.
Toda fé firme necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se crê. Para crer não basta ver, é necessário, acima de tudo, compreender. Muitas pessoas imaginam que a fé e a razão se encontram em locais opostos e que para crer em Deus e na sua Providência Divina é preciso abrir mão da lógica e do raciocínio matemático ou científico.
No entanto, à luz da Doutrina Espírita, podemos observar que é possível ter fé e, ainda assim, contar com a razão. Logo, a fé raciocinada, como o próprio nome diz, está em constante contato com a razão.
A crença baseada em fatos e testemunhos protege o homem do fanatismo e da alienação mental, propiciando segurança na certeza e esperança do caminho reto a percorrer.. Ou seja, ela busca um saber mais amplo, argumenta, se questiona e está em constante atualização, à medida que temos acesso ao conhecimento, que estudamos e que buscamos nosso melhoramento íntimo.
Ainda no Capítulo XIX de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, temos o alerta: “Diz-se vulgarmente que a fé não se prescreve, donde resulta alegar muita gente que não lhe cabe a culpa de não ter fé. Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhes ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la”.
De acordo com essa passagem, é possível perceber que a fé raciocinada está relacionada à ação de conhecer e praticar a Doutrina Espírita e seus princípios morais baseados na moral do Cristo. Logo, é necessário estar aberto e disposto ao diálogo e à lapidação moral necessária para a prática do Espiritismo. A Doutrina Espírita assume, com a fé raciocinada, que ainda não estamos preparados para ter todas as revelações. Para desenvolvermos a fé raciocinada é necessário muito estudo e disciplina, pois a fé não esclarecida e bem alicerçada pode conduzir ao fanatismo, à chamada fé cega.
O mundo está cheio de exemplos tristes dos frutos do fanatismo religioso. Em nome da fé, quantas perseguições, quantas mortes e até guerras. Se raciocinassem, veriam que Deus, como Pai amoroso, bom e misericordioso, nunca poderia ser homenageado com o derramamento do sangue dos Seus filhos.
Jesus, o educador de almas
Aprende-se no Espiritismo que, na sua caminhada evolutiva, o Espírito vai conhecendo as leis de Deus, vai percebendo-lhes a perfeição e, quanto mais as conhece, mais se identifica com elas, mais confia na justiça e no amor do Criador, mais se conscientiza da Sua perfeição, mais tem fé. Essa, a fé que nasce do entendimento: inabalável, indestrutível.
A fé que o Espiritismo preconiza não é uma fé contemplativa, capaz de levar uma pessoa à imobilidade, em que fica aguardando providências de Deus em seu favor. Ao contrário, é uma fé dinâmica, edificada. O espírita tem fé em Deus, em Jesus, nos bons Espíritos, entidades dotadas de sentimento e de inteligência, seres capazes de movimentar recursos em seu favor. Essa fé é muito diferente da crença num pretenso poder mágico de objetos materiais, que não poderiam jamais movimentar, com inteligência e sentimento, recursos a benefício de alguém.
A fé raciocinada vem de Jesus, dos ensinamentos do seu Evangelho. O Mestre mudou completamente o próprio conceito de religião, introduzindo no campo até então puramente emocional da fé, o componente razão, entendimento. Ninguém, até Jesus, fez tantos apelos ao raciocínio no âmbito religioso. Kardec, conhecedor profundo da atuação de Jesus, o conhecia, não como um místico, mas como um educador de almas que, ao tempo em que tocava o sentimento daqueles que o ouviam, sabia também levá-los ao entendimento das lições. Por isso, tem a Doutrina Espírita essa característica de racionalidade. E não podia ser de outra forma, uma vez que ao Espiritismo coube o papel de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais.
Jesus nunca explorou a emoção de ninguém. Sua fala, mansa e humilde, precisa e firme, era dirigida ao sentimento e à inteligência. Suas lições foram sempre pautadas no diálogo, através do qual propunha o exame racional daquilo que ensinava. Sua mensagem sempre foi dirigida ao intelecto e ao sentimento, bases legítimas da fé raciocinada, que o Espiritismo veio reviver.
XAVIER, Francisco Cândido - Emmanuel - “O Consolador”.
KARDEC, Allan. "O Livro dos Espíritos”; “O Evangelho Segundo o Espiritismo".
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