Blog Da Poesia

Mel Duarte

11/10/2023 13:37 - por Tiago Vargas

Mel Duarte é escritora, poeta, compositora e produtora cultural. Nasceu em 1988 em São Paulo e atua na literatura desde 2006.
Publicou os livros Fragmentos Dispersos em 2013, Negra Nua Crua, em 2016, As bonecas da vó Maria, em 2018 e Querem nos calar: Poemas para serem lidos em voz alta, em 2019, A descoberta de Adriel”, de 2020 e o mais recente “Colmeia: Poemas reunidos”, este de 2021.

 Em 2016 Mel foi destaque no sarau de abertura da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) e foi a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam (campeonato internacional de poesia falada). 

Como poetisa, seus versos refletem com propriedade sobre a realidade do povo periférico brasileiro, da vivência de mulheres, pessoas negras e também de política, além de outros temas. 

Menina Melanina:
Passou por incertezas
Momentos de fraqueza
Duvidou se há beleza
No seus olhos escuros,
Seu cabelo encrespado,
Sua pele tom noturno,
Seu gingado erotizado.
Algumas por comodismo não se informam, nem vão atrás
Pra saber da herança que carregam, da força de seus ancestrais!
Preferem acreditar que o bom da vida é ter um belo corpo e riqueza
E que chegará ao ápice de sua carreira quando se tornar a próxima Globeleza.

Bem-vinda!
Eram faíscas suas palavras que me queimavam em doses homeopáticas
durante todas as noites…
Foram longos anos, dia após dia perdendo um pouco mais minha autoestima,
abrindo mão das roupas que gostava, dos estudos, do trabalho e das amigas,
fazendo de tudo pra evitar brigas,
mas ele sempre dizia que a culpa era minha.
Até que um dia, me empurrou, me acuou
como se eu pudesse caber em qualquer fresta, encurralada,
me mandou ficar calada e, com medo, obedeci.
Eu pedia desculpa toda vez depois de falar
como se fosse um defeito de nascença querer me colocar.
A minha casa se tornou um ambiente tão hostil e eu, prisioneira das minhas próprias ideias,
acreditando que o amor era isso, esse abismo, onde só um fala e o outro, fica omisso.
Precisei tirar forças de lugares sagrados
pra me afastar e reagir, recolher meus pedaços.
Meus olhos encheram de mar, eu desaguei,
decidi não mais me calar, denunciei!
E depois do silêncio quebrado, meus pensamentos em guerra cessaram,
recuperei o fôlego e ouvi meu coração sendo grato.
Encontrei em mim um porto seguro, entendi que meu corpo é meu lar
e, no caminho até ele, escolho quem anda comigo e quem convido pra entrar.
Hoje, quando olho pra dentro, vejo uma nova mulher renascendo,
eu celebro sua chegada e contemplo essa nova vida.
Sem medo, abro a janela de casa
e, com olhar de quem a tanto tempo esperava,
te pego pela mão e digo:
Seja bem-vinda!

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