Blog Da Poesia

Mia Couto, Poeta

13/12/2023 09:33 - por Tiago Vargas

Mia Couto nasceu em Moçambique. É biólogo, jornalista e autor de mais de trinta livros, entre prosa e poesia. Seu romance Terra Sonâmbula é considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX.  

Em 2013, o autor recebeu o Camões, uma das premiações literárias mais prestigiosas concedidas a escritores em língua portuguesa.

Mia é um autor contemporâneo. Sua escrita também. 

Seus poemas são antes de tudo reflexivos e filosóficos- não no sentido de métodos ou conceitos- e sim,  na premissa ruminante e luminosa que despretensiosamente se aproxima de respostas latentes e ao mesmo tempo valoriza a ignorância de não saber tudo (Numa espécie de referência ao desconhecido).

Trata-se de uma poética não didática que aborda o ser e a dor basilar de existir em textos geridos pelo espanto genuíno e pela perplexidade que multiplica epifanias. O lirismo como submissão aos sentidos.   Agora/quero apenas/o que havia antes de haver a vida/a semente.

Os escritos do Moçambicano se caracterizam por ser atípica e testemunhar um tempo único, não cronológico. (A passagem do tempo é uma temática recorrente em sua obra).

Escritor dissonante. Poeta sui generis. 

 Que faz caber à existência humana dentro do verso de aparência simples.

Ecoam aqui as célebres palavras de Clarice Lispector: “Não sou eu quem escrevo, são meus livros que me escrevem’’.

Grandes escritores e poetas como Clarice e Mia Couto sabem disso.

A primeira vez da idade
A vez
Que tive mais idade
Foi aos cinco anos.
Meu pai,
Com solenidade que eu desconhecia
Perante seus superiores hierárquicos,
Apontou e disse:
- Este é meu filho!
E deu-me a mão
Coroando-me rei.

Saudade
Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus."

Idade
Mente o tempo:
a idade que tenho
só se mede por infinitos.
Pois eu não vivo por extenso.
Apenas fui a Vida
em relampejo do incenso.
Quando me acendi
foi nas abreviaturas do imenso."

Horário do Fim
morre-se nada 
quando chega a vez 
é só um solavanco 
na estrada por onde já não vamos 
morre-se tudo 
quando não é o justo momento 
e não é nunca 
esse momento 

Faça seu login para comentar!