Blog da Poesia
Consciência Negra em poemas
Tudo começou em meados de 1530, quando nosso regime colonial trouxe para a Bahia os primeiros escravos africanos. Durante séculos, o número de negros no trabalho forçado só aumentou até que, finalmente em 1888, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, extinguiu a escravidão no país e os libertou.
O grande problema dessa independência foi que os escravos não sabiam realizar outro tipo de ofício, continuando nas casas de seus patrões, mesmo desprendidos. Com isso, a tão esperada carta de alforria não chegou por completo. Comemorado no dia 20 de novembro, o dia da consciência negra tem como premissa ressaltar, relembrar e refletir sobre a causa e sua conjuntura na sociedade contemporânea.
Essa data foi escolhida como símbolo por marcar a passagem de seu representante máximo, Zumbi dos Palmares. Os poemas dessa edição do literário evidenciam essa percepção, espelham o preconceito, a igualdade social e resinificam as suas (e também nossas) lutas e conquistas.

Negro tambor
Atravessa os mares
Ecoa nas matas
Gritos de Palmares...
Negro tambor
Geme o açoite
Criando nações
No escuro da noite...
Negro tambor
Já foi libertado
Mas morre aos poucos
Lembrando o passado!
Leonardo Leão

Negrófila
Amo preto.
Pão, café e feição.
Vestido, bolsa e sapato.
Luvas e guarda chuva.
Capas de livros e rosas.
Canetas e laços nos cabelos.
O pretume da noite
A rapa do arroz queimado,
O escurecível dos poemas,
O beijo daquele negro safado.
... E a sombra (da caneta)
Eleana Roloff
Negra...
Que dormia tranquila um sono descuidado,
Passiva, indiferente, enfarada talvez,
Sob o ministério azul do céu todo estrelado...
Negra, imensa, disforme, enegrecendo a noite...
... Brutal e impura
Branca de espuma, ébrio de amor,
Tenta despir o seio duro
E virginal da terra em flor.
Enio Santos
Blues do luar
Garotinha branca rasgue a foto do Hitler
Enterre o senhor da guerra.
Antigamente nos trilhos do trem
Sentíamos a pulsação da terra.
Antes não tinha na escola, quadro negro
Mas meu sorriso já era de giz.
Não sou mais escravo hoje tenho emprego
E a liberdade de ser feliz.
Garotinha branca, não adianta...
O céu nunca foi azul de verdade.
Garotinha branca, quando anoitece...
Você embarca no ônibus da igualdade.
Garotinha branca, por que você.
Não canta o blues que eu fiz
Pra sua inconsciência dormir?
Garotinha branca não é só o luar...
Que encanta, eu já nascei assim,
Foi Deus que roubou a beleza da noite
E ofereceu pra mim.
Garotinha branca que graça teria
Se o céu fosse sempre azul?
Cleiton Leal
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