Blog dos Livros
A guerreira de lampião
Adriana Negreiros nasceu em São Paulo em 1974 e é jornalista desde 1996, com passagens pelas revistas Veja, Playboy e Cláudia, entre outras. “Maria Bonita -sexo, violência e mulheres no cangaço” (Editora Objetiva, 292 páginas, R$ 49,90) é seu livro de estreia, apresentando a mulher do cangaceiro Lampião a partir de uma perspectiva feminina, descrevendo em cores vívidas o cangaço brasileiro.
Nos anos 1920, mulher decente não largava o marido, quanto mais para fugir com cangaceiro. Mas Maria Bonita não seguiu as regras. Abandonou o casamento para se juntar ao bando de Lampião, passou fome, sede e foi constantemente perseguida pela polícia. Morreu jovem, aos 28 anos, sem jamais sonhar que um dia se tornaria um ícone popular. Décadas depois, passou a personificar a imagem da impetuosa guerreira, a rainha do cangaço, a Joana d’Arc da caatinga.
Porém, enquanto viveu, segundo é contado no livro, ela era apenas Maria de Déa, nascida em Malhada da Caiçara, no interior da Bahia, segunda filha de dois sertanejos simples e de recursos modestos. Nos anos em que viveu com Virgulino Ferreira, o Lampião, despertou pouco interesse de pesquisadores ou jornalistas. Nas notícias que contavam a saga do grupo de bandoleiros que aterrorizava o Nordeste, ela pouco aparecia e, quando mencionada, era simplesmente a mulher do Rei do Cangaço. Essa falta de informação sobre Maria de Déa e as cerca de quarenta jovens que viviam entre os cabras de Lampião contribuiu para que se criassem, ao longo do tempo, fantasiosas versões sobre sua vida e personalidade.
Depreciadas em seus discursos, relegadas a um plano inferior, essas mulheres tiveram seu papel como personagens históricas no fenômeno do cangaço. A jornalista Adriana Negreiros encarou o desafio de juntar pistas e seguir o rastro de Maria e suas companheiras de bando. O resultado é um relato impressionante do sertão brasileiro, dos anos 1920 e 1930, e do papel das mulheres em um universo marcado pelo domínio masculino.
Segundo conta a jornalista, pesquisar sobre o cangaço é se deparar com violências absurdas, que mais parecem saídas de filmes de terror. Ela conta que em dois anos de investigações sobre o tema, entretanto, nenhuma destas terríveis cenas chocou tanto quanto a mais incômoda das constatações: a de que os relatos das cangaceiras sobreviventes a Angico são geralmente desacreditadas em relação à extrema brutalidade da qual foram vítimas.
Conforme Adriana, “colocar em suspeição a versão das cangaceiras faz parte do mesmo padrão e da mesma lógica que insiste em desqualificar os relatos das mulheres quando violentadas.” Diz, ainda, no livro: “Uma distorção atávica, que transforma vítimas em culpadas e procura encontrar no comportamento feminino as alegadas razões para justificar a opressão.”
Trecho:
“Como regra, depois da morte de seus maridos, as mulheres ficavam à disposição dos outros cabras, como um patrimônio sem herdeiro certo. Um cangaceiro solteiro poderia, se quisesse, pegar a moça para ele. Se houvesse mais um interessado, que resolvessem a disputa entre si, amigavelmente. Caso não despertasse o interesse de ninguém, o mais recomendável era que fosse morta, pois, caso voltasse para casa, poderia entregar os segredos do grupo para a polícia. A presença de mulheres solteiras era rigorosamente proibida no bando. Só ficava ali quem tinha dono.”
(página 124)
VIOLÊNCIA POLÍTICA
Em seu mais recente livro, “Sempre foi sobre nós” (Editora Record, 224 páginas, R$ 39,90), a jornalista e ex-deputada federal Manuela d’Ávila traz relatos sobre violência política de gênero. Entre as mulheres que dão seus depoimentos estão Maria do Rosário, Dilma Rousseff, Benedita da Silva, Sônia Guajajara, Tábata Amaral, Isa Penna e outros nomes femininos importantes da política nacional brasileira.
A ÁGUIA POUSOU
Com cerca de impressionantes 150 milhões de livros vendidos até hoje, best-seller do gênero de romances de espionagem, Jack Higgins morreu no último sábado, aos 92 anos. Autor do famoso “A águia pousou,” que vendeu em torno de 50 milhões de exemplares, começou a publicar em 1959 e escreveu 34 romances, com predileção por ambientes da Segunda Guerra Mundial. A obra “A águia pousou,” que foi transformada em filme, conta a história de um comandante nazista que é incumbido de sequestrar o premiê britânico Winston Churchill.
Leituras:
“Pensar pela própria cabeça custa caro, preço alto. Quem se decidir a fazê-lo será ferozmente vigiado pelas ideologias, as da direita e as da esquerda e as volúveis. Ver-se-á acusado, insultado, caluniado, renegado. Ainda assim vale a pena, seja qual for o pagamento, será barato: a liberdade de se pensar pela própria cabeça não tem preço.”
(Jorge Amado (1912-2001), um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos, com obras adaptadas para o cinema, teatro e televisão.
Destaques:
COMO FUNCIONA O FASCISMO
Autor: Jason Stanley
A curiosidade quanto ao termo fascismo é um fenômeno sem precedentes no mundo contemporâneo. Jason Stanley, professor de filosofia da Universidade de Yale e estudioso de propaganda política, revisita neste livro célebres exemplos de movimentos ultranacionalistas, da Itália da década de 1920 às experiências do mundo atual, para mostrar as dez características fundamentais do fascismo. O livro é um estudo atualizado que demonstra como Estados dito democráticos e com ideais liberais estão sendo traiçoeiramente seduzidos pelo canto da sereia da liderança autoritária.
Editora L& PM. 206 páginas. R$ 29,90.
SEM ESFORÇO
Autor: Greg Mckeown
Autor de “Essencialismo,” que vendeu 250 mil exemplares no Brasil, Greg Mckeown neste livro oferece conselhos práticos para o leitor realizar suas atividades essenciais com mais facilidade e, assim, atingir seus objetivos. Ele apresenta 15 lições curtas, onde o leitor será conduzido a treinar o cérebro para se concentrar no importante e ignorar o relevante, resolver os problemas antes que causem danos, simplificar processos, entender as pausas, definir um ritmo e transformar tarefas chatas em rituais divertidos.
Editora Sextante. 269 páginas. R$ 49,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)