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Pablo Neruda

17/08/2022 09:15 - por Tiago Vargas

Um dos maiores poetas latino-americanos do século XX, Pablo Neruda nasceu no dia 12 de julho de 1904, na cidade de Parral, no Chile. Batizado como Neftali Ricardo Reyes Basoalto era filho de um operário e de uma professora primária. A escolha do pseudônimo foi uma declaração de afinidade com o escritor tcheco Jan Neruda, de quem era fã. Paul Verlaine era outra referência. Sua obra completa reúne mais de 40 livros, escritos entre 1923 e 1973 e é marcada preponderantemente  pela universalidade e pelo forte apelo humanístico e lírico (aspectos de cunho político e épicos também pode ser descobertos em seus versos).

Em outubro de 1971 Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.. Dois filmes foram inspirados em sua vida e obra, O carteiro e o Poeta, de  1994  , dirigido por Michael Radford e  Neruda-Fugitivo, dirigido por Manuel Basoalto, de 2015.
Suas publicações mais conhecidas foram "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada" e "Versos do Capitão". 

Poema 20
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. 
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. 
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. 
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo. 
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. 
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. 
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Te amo
Te amo de uma maneira inexplicável,
de uma forma inconfessável,
de um modo contraditório.
Te amo, com meus estados de ânimo que são muitos
e mudar de humor continuadamente
pelo que você já sabe
o tempo,
a vida,
a morte.
Te amo, com o mundo que não entendo
com as pessoas que não compreendem
com a ambivalência de minha alma
com a incoerência dos meus atos
com a fatalidade do destino
com a conspiração do desejo
com a ambigüidade dos fatos
ainda quando digo que não te amo, te amo
até quando te engano, não te engano
no fundo levo a cabo um plano
para amar-te melhor

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