Blog Da Poesia

Ryane Leão

27/07/2022 08:45 - por Tiago Vargas

Ryane Leão nasceu em 1989 em Cuiabá, no Mato Grosso e começou a divulgar seus poemas nas redes sociais, onde tem grande influência. Ao mudar-se para São Paulo, passou a frequentar saraus e slams, chamando a atenção para a visceralidade de seus versos. A repercussão a ajudou a publicar seus primeiros livros, Tudo brilha nela e queima, em 2017, que logo se tornou sucesso de vendas e a colocou em destaque no cenário da literatura brasileira contemporânea. O segundo livro, Jamais peço desculpas por me derramar, foi publicado dois anos depois, em 2019. Em sua poesia, ecoam vozes de mulheres negras em nuances de dor, amor e libertação, mediadas pelo movimento continuo das grandes cidades.

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Peguei metrô lotado
Vi um bando de olhos cansados
Amontoados no vagão
Quando foi que todo mundo
Meteu os pés pelas mãos? 
A rotina da cidade
Nos transtorna aqui dentro
Mas saiba que a ternura
Que quase ninguém vê
Já deu conta de salvar
Muita gente.
Ryane Leão

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Coração de garrafa 
A falta inundou-me o peito
E sem ter recipiente tão grande transbordei
A falta de dizer se enroscou na garganta
Senti meus olhos arderem
Era a saudade líquida que se esgueirou para fora deles fazendo o nariz escorrer
E noite adentro me perdi em busca de outra vez me esvaziar.
Júlia Borges

colo de mãe
amar é bordar
do lado de dentro
nesse tecido
invisível e delicado
toda mãe
carrega seus filhos
todo desamparo
encontra abrigo
nesse bordado materno
com fios impregnados
de nossas memórias
Marion Cruz

Nunca e sempre
Nunca e sempre são palavras
que não existem no dicionário da sabedoria.
O nunca só pode ter sentido
na perspectiva do sempre.
O sempre enxerga uma exclamação
onde o nunca enxerga uma interrogação.
O nunca coloca um ponto final
onde o sempre visualiza uma vírgula.
O nunca é sempre uma ilusão.
O sempre é uma promessa
que nunca se concretiza.
O nunca e o sempre se reconciliam
no caminho construído pelo talvez.
Gabriela Vidal Domingues

Reza da Benzedeira
Amigos!
Podem-se no outono! 
Tirem os galhos apodrecidos, 
As folhas com fungos, 
Os pedaços que impedem o florescer, 
Usem o podão com sabedoria, 
Chorem a dor da perda no outono, 
Recolham-se no inverno, 
Aconcheguem-se ao ninho nos dia frios, 
Busquem a proteção da seiva, 
Confiem nos ciclos, 
Energizem-se no sol tímido, 
Deixem gelar as feridas e bebam chás... 
E na primavera despertem, 
Acordem seus brotos, 
Deixem as dores partirem, 
Preparem-se para o verão rigoroso, 
Com frutos novos, 
Amizades fiéis, 
Novos conceitos e muita conexão... 
Percebam que tudo 
É crescimento e evolução. 
Fico aqui benzendo 
Com o fogo, o ar, a terra, 
A água e o éter... 
Enviando energias de transmutação!
Beijos mágicos em seus corações!
Mara Garin

SAUDADE
Percorro as paralelas
Em um cavalo chamado Pensamento
Subo o morro maior
Desço num corre de vento...
Dilso J. Dos Santos

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