Blog da Poesia

Carlito Azevedo

06/09/2023 09:04 - por Tiago Vargas

Carlito Azevedo nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. Poeta e tradutor. 

A estreia do carioca na literatura se deu por meio do livro Collapsus Linguae (1991). Cheia de estilo, a obra, de cara, foi vencedora do Prêmio Jabuti daquele ano.

Influenciado pela poesia concreta e pelo escritor João Cabral de Melo Neto, possui mais seis livros lançados: As banhistas (1993), Sob a noite física: poemas (1996), Versos de circunstância (2001), Sublunar (2001), Monodrama (2009) e Livro das postagens (2016).

Carlito é ainda tradutor de poesia francesa, uma paixão que se originou durante a graduação em Letras.

“Em seus
raros momentos
de elevação,
quando fica
num pé só,
imagina-se
a orquídea
da pedra.”

VENTO
A manhã e alguns atletas desde cedo que estão dando voltas
—à Lagoa.
Outros seguem para o Arpoador (onde o ar é de sal e insônia
e a beleza ri com uma flor de álcool entre os dentes).
O mar desdobra suas ondas sob o violeta dos
olhos da menina no alto da pedra.
Um falsete fica reverberando sem querer morrer.
Dos cabelos desgrenhados do meu filho
se desprega, ao vento, como um
sorriso, como um relâmpago,
um pensamento triste.

BANHISTA
Apenas
em frente
ao mar
um dia de verão —
quando tua voz
acesa percorresse,
consumindo-o,
o pavio de um verso
até sua última
sílaba inflamável —
quando o súbito
atrito de um nome
em tua memória te
incendiasse os cabelos —
(e sobre tua pele
de fogo a
brisa fizesse
rasgaduras
de água)

SERPENTE
O nome
como veneno
e o poema como
antídoto
extraído do
próprio
nome

ÁGUA FORTE
Girando
ritmadamente
(ela submersa
no inferno denso e negro
do café)
esta pequena
colher de prata
da qual
vês apenas
— preso entre teus dedos —
o cabo
sem grandes
arabescos
fazes emergir
em torvelinho
a partir da tona
líquida
escura
uma nuvem de fumaça
até teu rosto
que a recebe
sorrindo

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