Blog dos Espíritos

Escolher a porta estreita

21/07/2025 09:14 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

Símbolo transformação íntima
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos há que a encontrem” (Evangelho de Mateus). 

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XVIII, Allan Kardec dedica especial atenção ao ensinamento de Jesus sobre a porta estreita. Essa metáfora, profunda e atual, convida-nos a refletir sobre o esforço moral necessário para alcançar a verdadeira felicidade espiritual. A porta estreita simboliza o caminho da renúncia, da disciplina e da transformação interior. Enquanto o mundo frequentemente nos oferece atalhos fáceis, baseados em prazeres imediatos, conveniências e interesses materiais, a porta estreita exige vigilância constante, escolhas éticas e coragem para contrariar os impulsos egoístas.

 Longe de representar um castigo ou privilégio, ela é a trilha de quem busca a verdadeira evolução. “O Espiritismo vem abrir a porta estreita a todos os que querem ver a luz”. (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”). A porta estreita não se refere a sofrimentos impostos por Deus, mas sim às lutas necessárias para vencer nossas más inclinações. A travessia por essa porta exige o abandono de velhos hábitos egoístas e a adoção de novas atitudes baseadas na caridade, no perdão e no amor.

O Espiritismo ensina que todos somos espíritos imortais, criados simples e ignorantes, com o destino de alcançar a perfeição. A cada existência corporal, temos a oportunidade de depurar nossas imperfeições e progredir moralmente. No entanto, esse progresso não se faz sem esforço. Vencer o orgulho, o egoísmo, a vaidade, o ressentimento, esse é o verdadeiro desafio. E é nesse ponto que a porta estreita se apresenta: como um filtro que exige esforço consciente e perseverança para ser atravessado.

Muitos os chamados, poucos os escolhidos
Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, complementa esse ensinamento ao afirmar que “ninguém alcança a luz sem carregar sua cruz”. A cruz, símbolo de nossas provas e expiações, é também a alavanca do nosso crescimento espiritual, desde que saibamos enfrentá-la com resignação ativa, fé e amor. Entrar pela porta estreita, portanto, não é sinônimo de sofrimento inútil, mas de uma luta honesta contra as más inclinações. É transformar a dor em aprendizado, o erro em arrependimento e o arrependimento em renovação. É seguir os ensinamentos de Jesus não apenas com os lábios, mas com ações concretas, dentro e fora do lar, no silêncio das nossas escolhas e batalhas diárias.

Allan Kardec nos alerta que “muitos serão os chamados, e poucos os escolhidos” não porque Deus seja injusto ou excludente, mas porque poucos são os que se dispõem, de fato, a seguir com pelo caminho da porta estreita. Não basta crer, é preciso agir. Assim, a proposta da Doutrina Espírita nos é bastante clara: cada criatura é artífice do seu destino. A porta estreita está aberta a todos, sem distinção, mas cada um deve ter a coragem de atravessá-la, não por imposição divina, mas por escolha pessoal, iluminada pela razão e pelo amor.

“O Cristo não prometeu facilidades aos que desejassem segui-lo. (…) O discípulo do Evangelho é alguém que aceitou atravessar a porta estreita e seguir com sua cruz o caminho do aperfeiçoamento”. (Emmanuel, “Fonte Viva”). A porta larga é confortável, nela se acomodam o orgulho, a vaidade, o apego ao poder, os prazeres efêmeros. No entanto, segundo os ensinos dos Espíritos Superiores, essa é a trilha das ilusões que aprisionam e retardam o progresso espiritual. “O Espírito encarnado está num constante desafio entre os apelos do mundo e os apelos da consciência. A porta estreita simboliza o caminho do dever bem cumprido” (Joanna de Ângelis).

O progresso real, ensina o Espírito André Luiz, só é possível pela educação moral. Não há salvação sem mudança de atitude. “Cada criatura humana está edificando, no presente, o lar que habitará no futuro. A porta estreita é a do esforço diário, da vigilância constante sobre si mesmo”. Aceitar a disciplina da vida, aprender com as dificuldades e manter o ideal do bem, esse é o roteiro de quem decide entrar pela porta estreita. É a escolha consciente de viver com propósito espiritual, mesmo em meio às lutas do mundo.

 Por fim, a porta estreita é, na verdade, um caminho de libertação. Não porque restringe, mas porque ensina o desapego das ilusões e nos conduz à plenitude do ser. A porta estreita é o caminho da consciência desperta, do amor verdadeiro e da reforma íntima. Segui-la é assumir o compromisso com o Cristo, não por palavras, mas por ações renovadas. Que tenhamos a coragem de escolher esse caminho, mesmo quando o mundo nos oferecer atalhos, lembrando sempre: “Na porta estreita, Jesus espera” (Emmanuel).

KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
XAVIER, Francisco C. – Emmanuel. “Palavras de Vida Eterna”; “Fonte Viva”.
XAVIER, Francisco C. – André Luiz. “Entre a Terra e o Céu”.
FRANCO, Divaldo P. – Joanna de Ângelis. “Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda”.

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