Blog Da Poesia
Pedro Rocha
Pedro Rocha é poeta, editor e professor. Publicou, entre outros livros, Ojú Axé (2019), Ogivas Urgência (2015), Experiência do Calor (2014), Chão Inquieto (2010), Onze (2002) e Escrita de Galo (2002). Artista multifacetado. Divide suas atividades principalmente entre a escrita e as artes cênicas. Seus trabalhos podem ser conferidos no site www.pedrorocha.site
Atualmente vive no Rio de Janeiro.
“topa palavra a massa
quanto mais se alastra
esgarça garganta
o desenho que o poema vasta
banda é bem bom
mas um poema é catapultaquiupariu
o nervo exposto
poema quando o poeta cabula
trabalha dentro dos caras
querendo aquele deslize
que rasga a gaveta de carne
do poeta de frente
o bicho de asa
que o poema vasa
sarra genial
com a força de um toque genital
a veia que vigia o voo
cobra calada espinha dorsal
boceta que pensa
com a cabeça do pau
chato é teatro
música fácil
o poema é volátil”
Espasmo diante do espanto
o clarão que essa pessoa produz
a bomba que porta essa voz
o vazio
que invade por essa porta que se
abre
o furo que faz esse rugido
o vento que vem desse peito
e que me arranca roupa
o chão que me despenca dos pés
a vertigem nesse barulho
esse grito
esse golpe
coice
soco
esse oco
se expandindo dentro de alguma coisa
que também sou eu
esse Deus desvelado
posto de repente
na sala
esse raio que o céu me acerta
essa reta no meu meio
ronco rasgando a terra
força que fulmina
esse jorro que irrompe no tempo
sacudindo a realidade
essa possibilidade que mostra
um poder descabido à humanidade
através de um simples corpo
porto e plataforma de revolução
existe dentro dessa pessoa
que ferramenta é essa
que fermenta o invisível?
que nome tem essa usina
que transforma ar em fuzil?
que caminho o espaço percorre
nesse prisma de gente
que muta
muda
tudo o que está presente?
o latente nessa garganta é luta
ou não, ainda
palavra nenhuma
se aplica ou explica
esse evento
só sopro
bruto
som
violento
combustão
descabimento
quando range
essa árvore
que age
da cripta à copa
diante
de dentro
e de trás
de Amora
o que há
nessa hora
é a evidência
de que qualquer indivíduo
é capaz de transformar
o singular em coletivo