Blog da Poesia
Yasmin Nigri
Yasmin Nigri é poeta, ensaísta e artista visual. Mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal Fluminense, do Rio De Janeiro. Integrou a antologia 50 poemas de Revolta, 2017, Cia das Letras e é autora de Bigorna, publicado em 2018 pela Editora 34. Este seu livro de estreia. Kafka, Angélica de Freitas, Manoel de Barros, Pizarnik e E. E. Cummings são algumas de suas referências. O versejar de Nigri é particular. Original na essência. Caracteriza-se pela escrita urbana e pelas múltiplas camadas de significado nas imagens poéticas, tematiza a vida com rara expansão da realidade, forte acento irônico e aguçada percepção dos conflitos. Existencialista. Densa e confessional. A resiliência (“Já não tememos mais o silêncio/somos felizes/toda vez que nos esbarramos’’) e a melancolia/frustação (“Não há ombro/na medida do fracasso’’) são recorrentes em seu fazer literário. Exigente. Perfeccionista. A prosa como refinamento. Lego de palavras, sons e ritmos. Sublimação da arte.
Não bastasse entrelaçados
À espera do sono
Onde sonho e realidade convergem
Para que se repare o dano
Antes que assente fundo
Antes que os perseguidores possam reclamá-lo
Preciso fosse, escreveria ao mofo das paredes, preciso fosse,
Então você chega
E traz consigo tudo que a aurora dispersou
Envolve meu ventre com
O delicado manto que sai da sua pele
E deita ao meu lado o segundo astro que veste a cidade
Sobre isto, meu corpo não cansa
Contornando trilhos
Que nunca cicatrizam
Nessa eterna manobra
Se lhes torço
O cenho com ar zombeteiro
Suas lanças caem
Não mais desvio dos felinos retintos
Inquisidores
Ou desse Outro por quem vocês se passam
Escrevo como quem queda veredas
E desvencilha
Só minhas irmãs entenderão
Sabem-se condenadas
Ao exílio útero
Oco irascível
Em torno dessa fogueira
Ofertaram-me as mãos
E rodamos os passos interrompidos
De nossas ancestrais
Como é possível que meu peito esteja tão repleto de nadas? De nadas levantados à força para embargar-se na garganta e me chover inteiro pelas valetas dos olhos? Como é possível? Não pedi para ter a pele à flor da alma. Nem espíritos assombradores de pensamentos. Se escrevo é para não chorar, mesmo (m)olhando as lágrimas com este rosto que só tem vocação para rios.
Dilso. J. Dos Santos
No meu silêncio
Mora uns mistérios
E um homem sério
Cala uma criança
Neste silêncio
Se encolhe o tempo
Se ouve o vento
Velo a esperança
Findo o silêncio
Reencontro o sol
Como um girassol
Quero uma dança
Supero o silêncio
Renovo meus dias
E caso com a vida
De papel e aliança
Edison Botelho
Poesia, uma oração, na heresia
É ver, o aveludado da flor....
De todo jardim, o detalhe, da cor
Um aperceber, um escrever, amor...
Ah horas, de viajar ao vento
Descrever, aprisionar, o tempo
Pois, enquanto há sentimento
Alma solta, mão segura no tento
Existe, em todos os versos
A semear, um pensar, disperso...
Um espalhar, de alegrias, remanso
Pois quem lê, quem escreve, busca
A mesma coisa, um refletir...
Um sorriso, um descanso.
Sandro Pohlmann
Origami
Todos os caminhos contornam abismos
a natureza tem flores e tsunamis
e a vida humana
(mística ou profana)
lembra um origami
qualquer origami faz dobraduras profundas
por onde escorrem o ódio e o amor
os seres humanos criam artifícios
para ocultar o lado tóxico
(mesquinho, pequeno)
o rosto físico pode ser simétrico
mas o rosto da alma
possui dobraduras que desenham triângulos escalenos.
Isabel Furini
Retratando amor
Eu não tenho o retrato
do meu novo amor
por isso desenho
com lápis de cor
seu rosto delicado.
Já decorei seus traços
E cada pétala desta flor
que o rio Jacuí levou
para outro lado .
Eu amo o horizonte
dos seus olhos
são campos verdes
De Rio Pardo.
Cleiton Leal
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XXVIII Prêmio Paulo Salzano Vieira da Cunha De Poemas
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