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Augusto dos Anjos

07/12/2022 09:33 - por Tiago Vargas

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu na Paraíba em 1884. Trata-se do mais sincrético e original dos poetas brasileiros.  Sua obra merece deferência, pela relevância, densidade dramática, pela riqueza linguística, pela técnica e pela forma. Poesia antilirismo e antipoética. Isenta de sentimentalismos. Suas ideias/convicções assenhoravam afinidades aos conceitos de Schopenhauer (Para Augusto do Anjos não haveria Deus, nem esperança, apenas a supremacia da matéria, onde tudo é arrastado para a decomposição, para o fim, para o vazio ou para o nada) empregando em seus escritos uma linguagem científica-naturalista. 

A temática da incerteza, o pessimismo e os distúrbios pessoais são recorrentes na obra do autor de “Eu’’, seu único livro.  A agressividade no vocabulário e a hesitação/perplexidade quanto a existência do homem também são peculiaridades no texto do autor que transitava entre os parnasianos, em virtude de sua preferência por sonetos, pelo simbolistas por sua preocupação com a psique e principalmente, pré-modernista por sua autonomia e amplitude. 

De linguagem e temática diferenciada. Contraditório, visceral e popular.

Poeta singular, importante e obrigatório.

 

“Versos íntimos”:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
Obra: Eu (1912)

“A Esperança não murcha, ela não cansa, 
Também como ela não sucumbe a Crença, 
Vão-se sonhos nas asas da Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da Esperança’’.
Augusto dos Anjos

Poemas poesias versos

Quem disse que os poetas são bonzinhos?
Conheci um que não falava de amor,
muito menos de saudade,
era vil e bagaceiro,
de tão feio por dentro,
chegava a ter graça.
Ele não expunha seus sentimentos
e falava nomes feios,
às vezes vomitava palavras.
Negava a vida,
que afirmava não valer nada,
“a maior cagada da evolução”, dizia,
por ser animal de cultura, e 
tornar-se mercadoria, 
conhecia para dominar,
e mergulhar na hipocrisia.
“Merda!”, é o que somos, diria.
E, olha!, pensando bem,
Quando lembro de alguns,
ele tem lá suas razões.
Bagual Silvestris


O que esperar além da morte a não ser decomposição e o mau cheiro de uma vida inútil.
Esse aroma que invade as narinas... jaz a vida de um homem comum onde seus restos são disputados pelos vermes subterrâneos.
Ele na morada de cruzes silenciosa e flores artificiais onde morcegos cegos aterrissam em lápides abandonadas.
Será o homem um anjo caído ou um simples Augusto dentre tantos esquecidos com o tempo.
Teton Beat


Análise
Conhecendo maldade
Salgada verdade
Corre chora
Criança sem rumo
Lambendo o ranho
Seu único rango
Herança deixada
Por tempos passados
Passado tão mal
Presente igual
Futuro infernal.
... Marginal...
Jorge Ritter


Saudade
Nada é eterno
Posto que em tudo
Só há beleza
Se deixar saudade.
Tatiana Linhares


Revolta.
Estou farta desta poesia vazia
Poetas métricos e comportados
Escrita do início e final do dia
Ninguém merece os desafinados!
Estou farta desta enorme hipocrisia
Poetas feitos em páginas de jornais
Eles não conhecem mar ou maresia
Eles chafurdam seus lamaçais!
Estou farta de textos enfadonhos
Poetas feitos para ocasiões
Não sabem do pesadelo medonho
De quem escreve as suas paixões!
Estou farta da poesia vazia
Enche a vida, mas não o dia!
Mara Garin

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