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Corra Que a Polícia Vem Aí!: troca da guarda
Há um momento na carreira de Liam Neeson que se tornou um divisor de águas. Com o lançamento de “Busca Implacável” (2008) o ator reinventou-se como herói maduro de ação, protagonizando uma sequência de produções em que encarnava essencialmente o mesmo arquétipo, o vingador implacável, obstinado e “duro de matar”. Mas, com o evidente desgaste da fórmula, Neeson parece buscar agora um novo território artístico: a comédia. Curiosamente, o movimento ecoa o de Leslie Nielsen, que, após anos em papéis sérios, transformou-se em ícone do humor com “Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu!” (1980) e, posteriormente, com “Corra Que a Polícia Vem Aí” (1988) e suas sequências.
Essa conexão de carreiras se materializa neste novo “Corra Que a Polícia Vem Aí!” (The Naked Gun), dirigido por Akiva Schaffer, que assume a missão de atualizar a franquia para uma nova geração. No filme, Neeson interpreta o tenente-detetive Frank Drebin Jr., filho do lendário policial de Los Angeles vivido por Nielsen. Drebin Jr. é constantemente assombrado pela reputação do pai, de forma quase freudiana, com diálogos internos nos quais pede sinais espirituais (“como uma coruja ou algo assim”) para guiar suas ações.
Ao lado de Neeson, o elenco traz a atriz Pamela Anderson, que abraça o espírito escrachado da produção, que reforça o clima de paródia e exagero característicos da franquia original. A trama mistura investigação policial e ação desenfreada, recriando a atmosfera dos filmes de ação de Los Angeles dos anos 80, com referências visuais e narrativas a clássicos como “Um Tira da Pesada” e “O Exterminador do Futuro”.
O roteiro, assinado por Schaffer, Dan Gregor e Doug Mand, aposta em gags visuais, trocadilhos absurdos e situações nonsenses, marcas registradas do trio ZAZ (David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker), criadores da trilogia original. Nos anos 80 e 90, esses filmes se destacavam pelo ataque irrestrito a qualquer tema: mídia, política, sexo, preconceitos ou bons costumes. Nada estava a salvo. O politicamente correto ainda não dominava Hollywood, e a irreverência sem filtros era parte do DNA do gênero.
Mas surge a questão: em tempos mais sensíveis, seria possível recriar aquela mesma liberdade criativa? O “Corra Que a Polícia Vem Aí!” de 2025 mantém a estrutura imprevisível, mas não alcança a originalidade radical dos filmes originais. Há piadas hilárias e bem sacadas, mas também momentos em que a energia cômica perde fôlego. É, em parte, uma “paródia de uma paródia”, conceito que, por si só, já traz o risco de se tornar repetitivo.
Ainda assim, o filme cumpre seu papel. Provoca risadas genuínas e entrega uma comédia que, mesmo longe do auge das extravagancias dos anos 80, mantém viva a tradição da franquia. Se Liam Neeson herdará o “trono” de Leslie Nielsen, é cedo para afirmar. Mas a tentativa, ao menos, é divertida o bastante para justificar a volta da série às telonas.
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