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Os Caras Malvados 2: de vilões a mocinhos
Assim como o primeiro filme, lançado em 2022, “Os Caras Malvados 2” (The Bad Guys 2) aposta em uma mistura vibrante. De um lado, o ritmo eletrizante dos filmes de assalto no estilo “Onze Homens e um Segredo”; de outro, a fisicalidade cartunesca digna dos desenhos da série Looney Tunes. A sequência, no entanto, dá um passo adiante ao construir uma parábola moral que se mostra menos condescendente com o público jovem, abandonando parte do humor infantil em favor de piadas mais afiadas e de um visual ainda mais inspirado.
A trama retoma a história logo após os eventos do primeiro longa. O grupo formado por Sr. Lobo (Sam Rockwell, na dublagem original), Sr. Cobra (Marc Maron, no original), Senhorita Tarantula (Awkwafina, no original), Sr. Tubarão (Craig Robinson, no original) e Piranha (Anthony Ramos, no original) tenta se reintegrar à sociedade depois de cumprir pena na prisão. Agora “regenerados”, eles enfrentam a dura realidade: contas atrasadas, avisos de despejo e a dificuldade de encontrar emprego em um mundo que jamais confiará em suas intenções.
É nesse contexto que novos antagonistas surgem, provocando-os com uma pergunta incômoda: por que lutar para se adaptar a um sistema que sempre os verá como criminosos? A tentação de retornar ao velho estilo de vida acaba reacendendo dilemas internos, tornando a narrativa não apenas divertida, mas também reflexiva.
Se por um lado o roteiro flerta com um tom “fofo demais”, por outro, acerta ao injetar mais energia e inteligência na comédia. A influência estética de animes se faz sentir em sequências visuais criativas e dinâmicas, que elevam a experiência além do padrão de comédias infantis. O resultado é um filme mais carinhoso do que propriamente hilário, mas que conquista pelo carisma e pela mensagem genuinamente doce sobre amizade, confiança e pertencimento.
A segunda metade ganha fôlego com uma sequência climática de encher os olhos. Em um clímax que combina DNA de James Bond e quadrinhos de ação, os heróis enfrentam a ameaça do gigantesco ímã, capaz de atrair todo o ouro da Terra. O espetáculo visual coloca a franquia em outro patamar, reforçando sua vocação para o entretenimento grandioso e abrindo caminho para novas possibilidades narrativas.
É consenso em Hollywood que continuações precisam ser maiores e mais extravagantes que os originais — e o universo da animação não foge à regra. “Os Caras Malvados 2” segue essa cartilha, mas consegue ir além da simples repetição, reposicionando seus personagens e preparando terreno para novos rumos. Mais do que uma sequência, o filme se apresenta como uma reinvenção do próprio conceito da franquia.
No fim das contas, Os Caras Malvados 2 pode não ser tão memorável quanto alguns gigantes da DreamWorks, mas entrega um espetáculo divertido, visualmente criativo e com coração suficiente para encantar crianças e entreter adultos. Uma animação que sabe rir de si mesma, mas que também entende a importância de emocionar.
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