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Coração de Lutador: glórias e derrotas

02/10/2025 08:17 - por Jorge Ghiorzi jghiorzi@gmail.com

Ambientado entre 1997 e 2000, “Coração de Lutador” (The Smashing Machine) acompanha a trajetória de Mark Kerr, um dos pioneiros do MMA, em plena fase selvagem e incerta do UFC - Ultimate Fighting Championship, quando as regras ainda estavam sendo definidas. O longa cobre desde sua estreia profissional até as quedas e reerguimentos que marcaram sua carreira.

Kerr, que viveu uma montanha-russa de glórias, derrotas e dores físicas e emocionais, é interpretado por Dwayne Johnson, em uma atuação surpreendentemente contida, que foge da persona carismática e invencível que o tornou uma estrela global dos blockbusters de ação.

Inspirado no documentário homônimo de 2002, o filme não busca apenas exaltar a brutalidade ou a resistência física do esporte. Ao contrário, o diretor e roteirista Benny Safdie aposta em uma abordagem intimista, quase melancólica, que apresenta os lutadores não como super-heróis, mas como trabalhadores comuns tentando dar algum sentido às suas vidas.

Safdie, já reconhecido pela intensidade nervosa de “Jóias Brutas”, (com um improvável desempenho maduro de Adam Sandler) aqui revela uma sensibilidade naturalista, conduzindo Johnson para o que certamente é o melhor trabalho de sua carreira até então.

O filme não escapa totalmente das convenções do gênero, pois há, sim, uma montagem de treinamento inevitável, mas compensa com escolhas estéticas e narrativas que deslocam o foco do espetáculo para o humano. A trilha sonora, elegante e sonhadora, reforça essa atmosfera reflexiva, contrastando com o sangue e o suor que inundam o octógono.

O papel também espelha a real trajetória pessoal do ator Dwayne Johnson (que abandonou o nome artístico The Rock), marcada por conquistas avassaladoras, mas igualmente por fracassos retumbantes em projetos concebidos para dominar as bilheteiras e o mercado global, como “Baywatch” e “Adão Negro”.

Ao aceitar um registro mais vulnerável, Johnson se arrisca em um território que raramente explorou, mas sua entrega ainda carrega ecos da persona de astro que o acompanha há pelo menos duas décadas. Safdie, consciente dessa tensão, evita moldá-lo em “isca de Oscar” com cenas explosivas ou discursos catárticos. Em vez disso, aposta na fragilidade, no silêncio e na repetição da queda, um caminho que revela tanto a ousadia do ator em se expor quanto os limites de sua transformação.

No fim, “Coração de Lutador” se distancia do conto de fadas típico dos filmes esportivos e oferece algo mais complexo, triste e autêntico, como um retrato de como até os homens mais fortes precisam aprender a perder.

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