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Tron - Ares: arquivo corrompido
A franquia “Tron” carrega um legado duplo. O filme original (1982) foi uma obra pioneira, ousada em conceito e efeitos visuais. Em contraste, “Tron: Ares”, dirigido por Joachim Rønning, parece um mero exercício de nostalgia, um filme que, apesar do visual impecável, falha em recapturar o espírito inovador e o interesse humano de seu antepassado.
A trama gira em torno de dois bilionários da tecnologia em guerra. A Encom, legado do gênio Kevin Flynn, enfrenta a corporação de IA Dillinger, um nome que resgata o vilão do primeiro filme, liderada pelo neto de seu fundador, Julian (Evan Peters).
O objetivo da Dillinger é sinistro: projetar soldados na realidade virtual e exportá-los para o mundo real usando uma impressora 3D. O conflito se concentra na busca pelo "código de permanência", que não passa de um MacGuffin (um truque de roteiro que cria um elemento narrativo sem importância, apenas para manter a atenção e jogar a ação para a frente) que permitiria a essas criações permanecerem no mundo real.
No centro disso está Ares, interpretado por Jared Leto. O personagem é, essencialmente, um software antivírus antropomorfizado. Leto tem a presença estética (a barba e o cabelo longos) mas o papel o reduz a uma figura maniqueísta e unidimensional, um sintoma de um problema maior, pois o filme é apena forma sem nenhum conteúdo.
O mundo de “Tron: Ares” mantém a identidade visual da marca, com as icônicas motos de luz e cenários retrofuturistas. Uma cena de ação, em que uma dessas motos corta um carro de polícia ao meio, é tecnicamente competente, mas carece de drama e perigo real, pois o filme não constrói uma base emocional para que o público se importe.
As referências à mitologia anterior (Encom, Dillinger) funcionam mais como um tributo para a Geração X do que como elementos orgânicos de uma nova história. O longa parece tão voltado para quem viveu os anos 1980 que acaba perdendo a oportunidade de conquistar a geração Alpha, que poderia garantir o futuro da franquia.
Em resumo, “Tron: Ares” é uma contradição. A produção herda o visual deslumbrante de seu predecessor, mas tropeça onde mais importa, no coração da narrativa. É um filme que domina a superfície da aparência " cool", mas falha em codificar a alma e a ousadia que fizeram do original um marco. O resultado é uma experiência visualmente competente, porém emocionalmente estéril.
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