Blog do Cinema
Uma Batalha Após a Outra: América em crise
Após adaptar “Vício Inerente” de Thomas Pynchon em 2015, Paul Thomas Anderson (de “Magnólia” e “Sangue Negro”) volta a beber da mesma fonte literária. Desta vez, ele leva para as telas o romance “Vineland” (1990), transformando-o em um thriller de ação insólito, carregado de energia, ironia e indignação política. Um filme que pisa fundo no acelerador do início ao fim.
“Uma Batalha Após a Outra” (One Battle After Another) acompanha um grupo de ex-revolucionários que, em plena era de recrudescimento autoritário, retoma a luta armada contra o sistema. Leonardo DiCaprio interpreta Bob Ferguson, um especialista em explosivos que se alia à impetuosa líder Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor). Juntos, eles coordenam ataques a prédios, assaltos a bancos e ousadas operações de resgate em campos de deportação.
A paixão e a imprudência de Perfidia a tornam uma figura magnética, a ponto de atrair até mesmo um inimigo declarado, o cruel coronel Steven Lockjaw (Sean Penn). Essa relação paradoxal impulsiona a narrativa em uma odisseia de resistência, desejo e libertação que atravessa anos de conflito.
O longa é, ao mesmo tempo, sério e irreverente, emocionante e desconcertante, fundindo tons aparentemente inconciliáveis. Anderson faz aqui um cinema de denúncia, refletindo uma América contemporânea em crise: marcada pelo ódio às minorias, pela fragilidade institucional e pela ascensão de discursos extremistas. Sua indignação, pessoal e política, atravessa a obra, conferindo-lhe uma urgência rara.
“Uma Batalha Após a Outra” é, essencialmente, um thriller, mas não se limita ao gênero. Entre perseguições, explosões e confrontos, surgem ideias brilhantes sobre colapso e reinvenção nacional. A tensão, contudo, oscila: na parte central, o filme se permite um respiro cômico, quando DiCaprio abraça uma persona “maconheira” em roupão, evocando uma caricatura à la The Dude.de “O Grande Lebowski” Ainda assim, Anderson evita cair no piegas ou no moralismo: o tom é duro, sarcástico e sombrio, mas também repleto de vitalidade e beleza inesperada.
Drama e comédia se entrelaçam com surpreendente naturalidade, e a atmosfera do filme oscila entre o feio e o sublime, como reflexo de um país em permanente contradição. A sociedade americana, com suas forças e fraquezas, volta a ser um eixo central tanto para Thomas Pynchon quanto para Paul Thomas Anderson, sustentando este que talvez seja um dos filmes mais políticos, provocativos e deslumbrantes da filmografia do diretor.
Encontrou algum erro? Informe aqui