Blog Da Poesia

Murilo Mendes

14/12/2022 09:23 - por Tiago Vargas

Murilo Monteiro Mendes, ou apenas, Murilo Mendes. Foi um de nossos mais importantes e destacado poeta (considerado mestre por João Cabral de Melo Neto); representante da geração de 1930, conhecida também como segunda geração modernista. O poeta nasceu no dia 13 de maio de 1901, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Seus principais livros foram, “A Poesia em Pânico”, “As Metamorfoses” e “Poesia-Liberdade”. Invulgar recusou-se as formas usuais de produção literária. Foi barroco e surrealista, moderno e tradicional, sempre mantendo uma independência autoral e um certo desprezo pelo enquadramento dos manifestos. Trata-se de um autor peculiar, de escrita primitiva, cuja obra se impõe pela qualidade e pela diferença. A linguagem fragmentada de seus textos, a simbologia própria e as imagens insólitas convertidas em palavra e/ou versos fizeram do mineiro um autor de vanguarda. Outras marcas em sua poética são a presença constante e intensa de metáforas, a dilaceração do eu em conflito e o uso abusivo de contrastes (abstrato/concreto, realidade/mito, lucidez/delírio). Ler Murilo Mendes é sentir a vida num segundo, é sorver a existência num instante de incandescência, vivacidade e arrebatamento.

Estudo para uma ondina
Esta manhã o mar acumula ao teu pé rosas de areia,
Balançando as conchas de teus quadris.
Ele te chama para longas navegações:
Tua boca, tuas pernas teu sexo teus olhos escutaram.
Só teus ouvidos é que não escutaram, ondina.
Minha mão lúcida sacode a floresta do teu maiô.
Ao longe ouço a trompa da caçada às sereias
E um peixe vermelho faz todo o oceano tremer.
Tens quinze anos porque já tens vinte e sete,
tens um ano apenas...
Agora mesmo nasceste da espuma,
E na incisão do ar líquido alcanças o amor dos elementos.
Murilo Mendes

Corte transversal do poema
A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou.

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