Blog dos Espíritos

Resignação e resiliência

11/11/2024 09:55 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

Conceitos e significados
Segundo os dicionários da Língua Portuguesa, resignação é o mesmo que aceitação, uma condição de estar submisso ao desejo e vontade de outra pessoa ou da ação do destino. O estado de resignação é compreendido como a ação de aceitar voluntariamente e pacificamente uma condição que não pode mudar.

O sentimento de conformismo é uma das principais características da pessoa resignada, que não luta por alternativas para alterar a situação presente, resumindo-se apenas em concordar com ela, assim, consiste na ideia de aceitação conformada. Por outro lado, a resiliência significa a ação de mudar ou transformar algo, de acordo com a vontade do indivíduo.

No ramo da psicologia, por exemplo, a resiliência é interpretada como a capacidade da pessoa de lidar com seus próprios problemas, ultrapassando obstáculos e adversidades que possam surgir. Enquanto a resignação é tolerar passivamente o que é imposto, sem lutar, tomar atitudes ou fazer nada para melhorar a realidade. O filósofo Edgar Mohan chama a resignação e a resiliência de valores complexos, pois há momentos para ser resiliente e outros em que a resignação é a única opção. 

“O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande soma, a quem o credor dissesse: ‘Se me pagares hoje mesmo a centésima parte, darei quitação do resto e ficarás livre; se não, vou perseguir-te até que pagues o último centavo’. O devedor não ficaria feliz de submeter-se a todas as privações, para se livrar da dívida, pagando somente a centésima parte da mesma? Em vez de queixar-se do credor, não lhe agradeceria?” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XII). 

O Evangelho Segundo o Espiritismo nos explica que, enquanto a obediência corresponde ao consentimento do raciocínio, da razão, a resignação corresponde ao consentimento do coração. É o nosso sentimento que nos dá ensejo à resignação. No ser humano, a dor nos fustiga o lado moral para que a gente aprenda a perdoar, a ser humilde, a extirpar o orgulho. Na medida em que sabemos disso, encaramos melhor as dores do mundo, as dores da Terra, com uma virtude que se chama resignação. A resignação, de maneira alguma, será acomodação. Não temos que cruzar os braços porque sofremos ou diante das dores e deixar que Deus resolva.

A habilidade de saber encarar a dor
Algumas pessoas parecem ter a capacidade de serem sempre otimistas, de levantar e seguir em frete apesar das quedas e adversidades da vida. Os estudiosos passaram então a buscar um termo mais adequado, e foi então que emprestaram uma terminologia da física: resiliência, que é uma propriedade de alguns materiais, que mostra sua capacidade em retornar ao seu estado original, após sofrer grande pressão.

Assim seriam as pessoas com alto grau de resiliência: teriam capacidade de encarar as adversidades como oportunidade de mostrar e aprimorar sua competência, seu entusiasmo. Seria uma habilidade, que todos podemos adquirir, de suportar o sofrimento, extraindo dele tudo que tem para nos ensinar. Aí está a chave de tudo.

Léon Denis afirma com propriedade, que se, nas horas de provação, soubéssemos observar o trabalho interno, a ação misteriosa da dor em nós, compreenderíamos melhor sua obra sublime de educação e aperfeiçoamento.

A Terra, por ser um mundo de provas e expiações, ainda nos apresenta frequentemente o contato com a dor e com a maldade do mundo. Estamos aqui para evoluir. A dor, nesse caso, quase sempre, transforma-se no impulso evolutivo necessário à nossa caminhada. Atrelada à Lei de Causa e Efeito, ela nos convida, não raras vezes, ao reajuste, ao resgate de nossos débitos anteriores ou atuais. Quando temos um problema, a dor que dele resulta é um fato - algo que acontece ou aconteceu.

O sofrimento é a nossa resposta a esse fato, a nossa reação diante da dor, do fato, do problema. Lembramos, quanto a isso, que a dor pode vir atrelada ao campo das causas e efeitos, mas o sofrimento é opcional, ou seja, não sofrer no sentido de não se lamentar, não se desesperar, equivalendo dizer, não perder a esperança. Em verdade, isso não nos retira a dor, mas sublima os nossos sentimentos em relação ao fato.

Ser resignado ou resiliente?
“O homem pode abrandar ou aumentar o amargor das suas provas, pela maneira de encarar a vida terrena. Maior é o eu sofrimento, quando o considera mais longo. Ora, aquele que se coloca no ponto de vista da vida espiritual, abrange na sua visão a vida corpórea, como um ponto no infinito, compreendendo a sua brevidade, sabendo que esse momento penoso passa bem depressa” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V).

Diante desses apontamentos, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que resignação é dor sem sofrimento, momento em que o indivíduo, ante a imortalidade da alma, compreende o processo. Não pela subserviência, submissão ou inércia diante dos fatos, mas por uma oportunidade de crescimento que nos impulsiona à busca do melhor para nós e para o momento.

Se muitos dos nossos problemas não podem ser mudados nesta existência, podemos, entretanto, pela sua compreensão, mudar a forma de enfrentá-los. Ou aliviamos o tal “sofrer”, passando pela dor, sem lamentação ou reclamação constante (atitude essa, muitas vezes, responsável por mais dor), ou fazemos o problema ou a dor parecerem maior do que realmente são.

Desta forma, podemos concluir que o ideal seria o indivíduo apresentar a união da resignação e da resiliência para atingir a evolução espiritual, sendo uma responsável por suportar os momentos difíceis que todas as pessoas enfrentam na vida e a outra o estímulo necessário para nunca perder a fé e a esperança de um futuro melhor, buscando sempre se melhorar e evoluir.

Assim, resignação e resiliência são, acima de tudo, confiança e fé inabaláveis em Deus, buscando Nele força, ânimo e esperança, mesmo nas situações mais desafiadoras, com coragem e esperança. É a certeza de que, em meio às adversidades, Deus é nosso refúgio e fortaleza, sempre pronto a nos fortalecer e nos encorajar.

KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
DENIS, Léon. “O problema do ser, do destino e da dor”.

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