Blog dos Espíritos

Um olhar espírita sobre a infância

13/10/2025 09:21 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

Renascimento e esquecimento do passado

A infância é um capítulo sagrado da existência, em que o Espírito, vindo de múltiplas experiências, reencontra o ponto inicial de um novo ciclo de aprendizado.

Não é apenas uma fase biológica do desenvolvimento humano, mas uma etapa planejada pela Sabedoria Divina, onde o Espírito renasce em um corpo frágil para reaprender, reparar e recomeçar. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, explica que a infância é uma etapa necessária à reencarnação do Espírito, servindo de transição entre o mundo espiritual e o terreno. “A infância tem uma utilidade. O Espírito, durante esse tempo, é mais acessível às impressões que recebe, e isso contribui para o seu adiantamento” (questão 383).

Essa maleabilidade é o meio pelo qual a Providência Divina permite que o Espírito, temporariamente esquecido do passado, possa ser educado novamente, agora sob novas influências morais e espirituais. Durante a infância, o Espírito reencarnante passa por essa espécie de esquecimento temporário do passado, um “véu do esquecimento” que permite o reajuste moral e afetivo junto à nova família.

Kardec ensina: “Ao renascer, o Espírito volta a entrar na vida corporal, mas perde temporariamente a lembrança de suas existências anteriores, como se estivesse renascendo para uma nova vida” (O Livro dos Espíritos, questão 392). “Deus, em sua sabedoria, quis que a lembrança do passado fosse oculta, para que o homem não se revoltasse contra o meio em que foi colocado” (O Livro dos Espíritos, questão 392).

Esse esquecimento é, portanto, ato de amor, e a infância, o tempo da misericórdia, em que os laços do passado podem ser reparados através do amor recíproco entre pais e filhos, antes inimigos, agora reencontrados no lar terreno.

A missão dos pais

Os pais são instrumentos de Deus, responsáveis pelo acolhimento, orientação e exemplo moral dos filhos. A Doutrina Espírita não vê o lar apenas como um ambiente físico, mas como oficina espiritual, onde se tecem os fios do destino comum. “Deus confia aos pais uma missão: a de fazer progredir seus filhos” (O Livro dos Espíritos, questão 582).

A infância é, portanto, o campo onde o educador e o educando reconstroem laços do passado e edificam o futuro. Emmanuel, no livro “O Consolador”, reforça essa visão ao afirmar: “A educação, mais do que instrução, é obra de iluminação da alma, tarefa sagrada em que o coração deve preceder o raciocínio”. Desse modo, educar espiritualmente uma criança é muito mais do que ensinar regras sociais, é acender a luz do amor, da fé e da responsabilidade moral em sua consciência.

Segundo a Codificação, o Espírito da criança, embora tenha vivido muitas existências, não está plenamente livre para agir conforme sua experiência anterior, pois passa por um período de “adormecimento” das tendências más. “Na infância, o Espírito ainda não manifesta completamente suas tendências, pois as faculdades não estão desenvolvidas. É o tempo em que o Espírito é mais dócil e mais acessível aos conselhos da experiência” (O Livro dos Espíritos, questão 385).

É nesse intervalo que os pais e educadores devem agir com amor e firmeza, moldando o caráter da criança e fortalecendo seus valores espirituais. Joanna de Ângelis, em “O Ser Consciente”, destaca: “A criança é o Espírito reencarnado que retorna ao berço físico para reaprender a viver, necessitando do clima de amor, compreensão e equilíbrio para que possa reerguer-se na senda evolutiva”.

Por isso, a evangelização infantil, seja no lar, seja nas instituições espíritas, é serviço de luz em favor da humanidade futura. A criança evangelizada é o adulto consciente de amanhã, preparado para servir ao bem. Léon Denis, em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, destaca: “Educar é libertar. A educação verdadeira é aquela que desperta na alma o sentimento do dever e o amor ao bem. É a semente divina lançada no campo da infância”.

Exemplo: a semente para o futuro

A infância é o solo fértil da reencarnação, onde se planta o destino. André Luiz, em “Missionários da Luz”, descreve a importância do período infantil como oportunidade de reorganização do perispírito e ajustamento vibratório do Espírito reencarnante.

“O período infantil é o tempo sagrado da preparação, em que a alma se adapta novamente à vida física e se sintoniza com as vibrações do ambiente em que renasceu”. Assim, cada gesto de ternura, cada exemplo de bondade e cada palavra de amor dirigida a uma criança se transforma em força edificante no seu futuro espiritual.

Esse período é também de esperança da regeneração da Terra. As novas gerações trazem Espíritos mais adiantados, preparados para construir um mundo mais justo e fraterno. Kardec nos orienta em “A Gênese”: “Os tempos são chegados em que uma transformação deve operar-se no seio da Humanidade. Os Espíritos que habitam a Terra serão substituídos por outros mais adiantados”. Essas “crianças da regeneração” vêm como sementes do progresso moral, portadoras de novas ideias e sentimentos, para impulsionar o mundo em direção à luz.

Deste modo, a infância é fase de bênção e responsabilidade, em que o Espírito reencarna sob o manto da inocência para reconstruir o que destruiu e aprender o que não soube amar. Cuidar da criança é, portanto, cooperar com a obra divina, servindo ao progresso da humanidade e ao plano redentor de Deus. “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus” (Jesus – Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII).

“A infância é o alvorecer da existência, tempo de sementeira bendita. O que se planta no coração infantil florescerá no futuro, em bênçãos ou em espinhos, conforme a semente lançada”

(Emmanuel – Caminho, Verdade e Vida).

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