Blog dos Espíritos

O sono e a liberdade do Espírito

06/10/2025 09:34 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

Desprendimento do Espírito durante o sono

O sono é um dos fenômenos mais comuns e, ao mesmo tempo, mais profundos da vida humana. Longe de ser apenas um repouso físico, ele representa, sob a luz da Doutrina Espírita, um retorno temporário do Espírito à sua verdadeira pátria: o mundo espiritual. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, pergunta aos Espíritos superiores sobre o que acontece à alma durante o sono.

Na questão 402, eles respondem com clareza: “Durante o sono, a alma se desprende parcialmente do corpo; quando dormimos, estamos, por assim dizer, no estado em que ficamos depois da morte. Os Espíritos que estão libertos da matéria vão aonde querem; têm mais liberdade do que quando estão acordados”.

Assim, o sono é uma libertação parcial da alma, que se afasta do corpo, aproveitando-se do repouso dos sentidos e das forças orgânicas para viver uma vida mais ampla. Kardec acrescenta que, nesse estado, o Espírito entra em contato com outros Espíritos, reúne-se com os que ama, recebe inspirações, consolos e instruções, e muitas vezes revisita o mundo espiritual de onde veio.

Emmanuel, em sua obra “O Consolador”, complementa essa visão, dizendo: “Durante o sono físico, o Espírito desprendido parcialmente do corpo, como que saboreia, por antecipação, a liberdade que o espera após a morte, e procura nos planos invisíveis as companhias afins, as instruções e os ensinamentos que o ajudem na vida de vigília”. Essa liberdade temporária explica por que, muitas vezes, acordamos com novas ideias, inspirações ou mesmo sentimentos diferentes.

O Espírito, durante o repouso, vive experiências reais, embora nem sempre consiga traduzi-las em lembranças conscientes. Kardec comenta ainda que o sonho é a lembrança imperfeita dessas vivências espirituais: “O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Mas notai que nem sempre sonhais; o que se passa é que nem sempre vos lembrais do que vistes ou de tudo o que vistes”. 

Uma ponte entre os dois planos

O sono, portanto, é uma ponte entre o mundo material e o espiritual. Ele permite que o Espírito recobre forças, busque ensinamentos e se harmonize com entidades benevolentes, preparando-se para enfrentar as lutas do dia seguinte. André Luiz, em “Missionários da Luz”, explica que durante o sono, “os trabalhadores da Terra são socorridos e instruídos pelos amigos espirituais, que se utilizam desse desprendimento natural para o amparo e a educação das almas”.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo XXVIII, encontramos a confirmação dessa assistência invisível: “Os Espíritos benévolos vêm instruir-nos durante o sono e nos ajudar com conselhos que, muitas vezes, se manifestam ao despertar como intuições ou impulsos morais”.

Joanna de Ângelis, em “O Ser Consciente”, aprofunda a compreensão psicológica e espiritual do fenômeno: “Enquanto o corpo repousa, o Espírito retoma temporariamente sua liberdade, vivenciando experiências de aprendizado e libertação que contribuem para o progresso da alma. O sono, assim, é um exercício diário da imortalidade”. Podemos, então, compreender o sono como uma bênção divina, mecanismo de equilíbrio e de continuidade da vida espiritual. Ele recorda ao homem sua verdadeira natureza, pois, ainda que ligado à carne, o Espírito jamais deixa de ser um ser imortal e ativo, com percepções e vivências além do mundo físico.

Preparação para o sono

Ao adormecer, não nos desligamos da vida, apenas a vivemos em outra dimensão. Por isso, o estudo, a oração e o cultivo de bons pensamentos antes do repouso são atos de profunda sabedoria, pois determinam a qualidade das companhias e experiências que teremos fora do corpo. Como ensina Emmanuel, em “Pensamento e Vida”: “A mente é o espelho da vida em toda parte. Dormindo ou acordado, o Espírito vive no campo de suas próprias criações”.

O sono é, assim, um retorno periódico à vida espiritual, um lembrete de nossa origem e destino imortal. Ele nos convida à reflexão sobre a continuidade da existência e sobre a responsabilidade de cultivar pensamentos elevados, para que, tanto em vigília quanto em desprendimento, possamos estar em harmonia com os planos superiores da vida. Compreendendo essa realidade, devemos valorizar o momento do sono como oportunidade sagrada.

A oração sincera antes de dormir, a leitura edificante e o cultivo de bons sentimentos são recursos que favorecem o contato com os planos superiores. Que possamos, assim, fazer de cada noite um reencontro com a vida maior, lembrando as palavras de Allan Kardec: “O Espírito jamais está inativo; durante o sono do corpo, ele vive outra vida, mais livre e mais feliz” (O Livro dos Espíritos, q. 403).

Encontrou algum erro? Informe aqui

Faça seu login para comentar!