Evangelização e autoconhecimento

A evangelização do espírito é uma das tarefas mais nobres e urgentes na atualidade, especialmente à luz da Doutrina Espírita, que vem cumprir a promessa do Cristo de enviar o Consolador Prometido. Mais do que ensinar verdades religiosas, evangelizar o espírito é educar a alma para a vida eterna, auxiliando-a a compreender sua origem, seu destino e a razão de sua existência na Terra.

No prefácio de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec afirma que: “Para se melhorar é preciso reformar-se; para reformar-se é preciso conhecer-se; para conhecer-se é necessário instruir-se”.

Esse caminho de autoeducação é a base da verdadeira evangelização: não apenas decorar princípios morais, mas transformá-los em atitudes vivas no cotidiano. Evangelizar é libertar o espírito da ignorância, do egoísmo, do orgulho, que são grandes chagas morais que retardam sua marcha evolutiva. 

O Evangelho de Jesus é o guia seguro para a evolução espiritual da humanidade. Nele encontramos a expressão máxima da Lei de Amor, conforme ensinado pelos Espíritos superiores: “A lei de Deus está escrita na consciência” (O Livro dos Espíritos, questão 621). Evangelizar o espírito é reacender essa luz interna, muitas vezes obscurecida pelas paixões e pelas ilusões materiais.

Por isso, Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, afirma: “O Evangelho é o sol da imortalidade iluminando os caminhos da Terra” (Palavras de Vida Eterna).

A missão da Doutrina Espírita é reviver o Evangelho de Jesus, interpretando-o de forma lógica, racional e coerente com os ensinamentos dos Espíritos superiores, sem misticismo, sem fanatismo, sem dogmas. Assim, evangelizar é um processo contínuo, que começa na infância e se estende por toda a existência, inclusive e principalmente no plano espiritual.

A criança, espírito reencarnante, traz consigo experiências milenares, muitas vezes marcadas por equívocos morais e afetivos. Educar desde cedo é oferecer-lhe ferramentas para reconstruir-se.

Joanna de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Franco, destaca: “A evangelização é o processo de autoiluminação, pela aquisição de valores morais que elevam o ser” (O Ser Consciente). Deste modo, evangelizar não é uma imposição de crenças, mas uma proposta de libertação interior, de despertar da consciência adormecida, de reconciliação com a própria consciência moral. Emmanuel também reforça essa visão ao dizer: “Evangelho no coração é luz na consciência” (Fonte Viva).

Conhecer para reformar
É no âmago do ser que as transformações reais acontecem. Nenhuma mudança verdadeira pode vir de fora para dentro. A evangelização, portanto, atua no espírito, despertando nele os valores do bem, da justiça, da compaixão e da fraternidade.

Evangelizar é regenerar o mundo, pois vivemos um momento crítico da história humana, marcado por transições profundas. A Terra, segundo os Espíritos superiores, está deixando de ser um mundo de provas e expiações para tornar-se um mundo de regeneração. Esse processo, no entanto, não se dá por decretos celestiais, mas pela renovação moral dos indivíduos que a habitam.

Emmanuel alerta: “A regeneração da Terra começa no coração do homem” (Caminho, Verdade e Vida). Evangelizar o espírito é, portanto, participar ativamente da transformação planetária, contribuindo para a construção de um mundo mais justo, pacífico e solidário. Cada ser humano evangelizado é uma centelha de luz a mais no tecido social.

Como nos lembra Jesus: “Brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mateus 5:16). Evangelizar-se é, pois, tornar-se agente do bem, levando o Evangelho vivido às relações familiares, sociais e profissionais.

Sabemos que a morte não encerra o processo educativo do espírito. Ao contrário, o que não se aprende na Terra, continua-se aprendendo no mundo espiritual. André Luiz, no livro Missionários da Luz, descreve instituições educativas no plano espiritual dedicadas à reeducação dos Espíritos recém-desencarnados: “A educação continua além da morte. A morte não apaga a ignorância nem acende, por si só, a luz da sabedoria” (Missionários da Luz).

Se o espírito não se evangeliza enquanto encarnado, muitas vezes permanece preso a ideias e comportamentos inferiores, retardando seu progresso. Por isso, o esforço de transformação deve começar enquanto na carne, aproveitando as oportunidades de renovação que a vida terrena oferece.

Evangelizar é amar
Em sua essência, evangelizar o espírito é um ato de amor. É estender a mão ao próximo com a luz da verdade, com paciência, empatia e compreensão. É lembrar que todos somos espíritos imortais em jornada evolutiva, e que a fé raciocinada, a caridade e o amor ao próximo são as chaves que nos libertam.

A Doutrina Espírita não evangeliza pela imposição, mas pelo exemplo e pela razão. Como diz Kardec: “Fora da caridade não há salvação” (Evangelho segundo o Espiritismo). Evangelizar o espírito é ensiná-lo a amar, a servir, a compreender, a perdoar. É fazer nascer, dentro de cada ser, o Cristo interno, a centelha divina que dorme no íntimo de todos nós. É um compromisso com a luz. É conduzir a alma do vale das sombras para os cumes da elevação moral e espiritual.

O Espiritismo nos convida a assumir essa missão conosco mesmos, com nossas crianças, com a humanidade. Como nos diz o Espírito Verdade: “Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”. (Evangelho segundo o Espiritismo). Que possamos ser, cada um de nós, evangelizadores da nova era, irradiando paz, esclarecimento e fraternidade, e contribuindo para a construção de um mundo mais espiritualizado, mais justo e mais feliz.

“Evangelizando o Espírito” é o tema do seminário que ocorrerá pelo 27º Mês Espírita de Cachoeira do Sul, no próximo dia 25 de outubro, no salão Festare, a partir das 8h30. Será uma bela oportunidade de refletirmos o tema central, com a presença de dois queridos irmãos espíritas, psicólogos de profissão, e que vêm do Mato Grosso: Afro Stefanini e Leonel Vasconcelos. Sintam-se todos convidados a estarem conosco neste dia.