Blog Da Poesia

Ana Luísa Amaral

22/12/2021 08:30 - por Tiago Vargas

Ana Luísa Amaral nasceu em 5 de abril de 1956, em Lisboa, Portugal. É uma poetisa contemporânea, tradutora e professora de Literatura e Cultura Inglesa e Americana na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vive em Leça da Palmeira desde os nove anos. Tem doutorado sobre a poesia de Emily Dickinson e as suas áreas de investigação são Poéticas Comparadas e Estudos Feministas. É autora, com Ana Gabriela Macedo, do Dicionário de Crítica Feminista e dos livros “A arte de ser tigre’’, “Se fosse um intervalo’’, “Agora’’, entre tantos outros. Trata-se de uma das mais relevantes poetisas da atualidade. Sua escrita se caracteriza pela compreensão inteligente da realidade sobre o cotidiano; poesia da reflexão e deflexão. A palavra como traço, esboço de vida. Limiar de sentidos. Sua voz feminista localiza e encandeia um peculiar realismo humano, estético e com existências implícitas, uma dentro de outras. Para ler e conhecer. Sob o viés das interrogações. 

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Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
história, constelações
de sons e gestos
Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de nada se fazem
universos
Ana Luísa Amaral

METAMORFOSES 
Faça-se luz
neste mundo profano
que é o meu gabinete
de trabalho:
uma despensa.
As outras dividiam-se
por sótãos,
eu movo-me em despensa
com presunto e arroz,
livros e detergentes.
Que a luz penetre
no meu sótão
mental
do espaço curto
E as folhas de papel
que embalo docemente
transformem o presunto
em carruagem!
Ana luísa Amaral 

Na Casa do Bem Te Vi 
na minha casa canta um sabiá
um não, uns quantos 
eles amam meus abacates
beija-flor só beija quando quero
o quero-quero é mais raro 
já o bem-te-vi,
anda sempre por aqui. 
Salve Pacha

VIDA
Para mim a vida é preciosa
Porque você não existe outra vez.
É isso que faz ser tão mágica.
Um dia você vai comer sua última refeição,
Cheirar sua última flor,
Abraçar um amigo pela última vez,
 sem saber que é a uma despedida.
Por isso, você deve fazer tudo que ama com paixão! 
Entende?
Aproveitar os momentos que tem, porque... 
Na verdade, é isso que existe.
Vitor Juliano Nunes dos Santos

Indiferença
A indiferença é um campo de energia emocional
onde o tudo e o nada tem o mesmo significado.
Uma frase reticente
que não conceitua coisa nenhuma.
A indiferença é uma folha em branco,
um sono sem sonhos
e um arco-íris preto e branco.
A indiferença é um espírito que adormece
num mundo introspectivo
criado a partir do tanto faz.
Uma quietude sinistra da alma
que segue uma trajetória indefinida.
A indiferença é um silêncio inerte,
um grito sem eco
e a paisagem de uma natureza morta.
Gabriela Vidal Domingues

feliz é como uma faísca 
brilhando fraquinha e breve 
em um cantinho da escuridão.
Dilso J. dos Santos

Off-line
Exercício da memória
Em meio a uma pandemia
Conectada.
Ter uma rede social
É o mesmo que vender votos
No ensino primário.
Os votos são as curtidas
Uma busca por notoriedade.
Que notoriedade teria um poema nu?
Machado Bantu

MULHER
a palavra
lavra em desatino
arrozais, cachoeiras
procura morada
desocupada
para fazer moradia
de poesia
ventre vira casa de palavra
enraíza sonhos
desassombra destinos
rima horizontes
amanhece entrelinhas
desassossega luas, planetas
desencadeia cometas
palavra reinventa a mulher
rompe oceanos
nasce poema,
nasce poeta.
Marion Cruz

O velho Pubi
Meu avô ia na venda
à tardinha
e na volta me trazia
um punhado de balinhas coloridas,
que eu comia com prazer
na concha de suas mãos.
As balas tinham gosto de fumo,
de cachaça
e de fundo de bolso
de calças.
Em troca eu tinha que lhe tirar os sapatos,
contar do meu dia
e manter sempre quente
a água do chimarrão.
Até que teve uma tarde que ele foi na venda
e não mais voltou.
Nunca mais balinhas coloridas.
Nunca mais tirar os sapatos.
Nunca mais contar do meu dia.
A água do chimarrão esfriou.
Mauro Ulrich

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