Conta-se essa lenda na cidade litorânea de São Francisco, uma das mais antigas de Santa Catarina. O fato não era raro, sempre naquelas noites frias em que a neblina do mar cobria as ruas e ficava impossível enxergar um palmo na frente do nariz, os moradores acordavam-se perturbados com um barulho na madrugada, cortando o silêncio noturno. 

Era o som de uma carroça, nela muitas quinquilharias, mais do que um cavalo aguentaria carregar. Eram chaleiras, bules e panelas, boa parte amassada e sem condição de uso, algumas até penduradas para fora da carroça, de forma que, no silêncio da noite, mais parecia carnaval.

O som arrastava-se em frente às casas, lentamente, fazendo com que as pessoas se acordassem, por mais que esperassem passar o som persistia na sua missão de desassossegar a todos. Vizinhos abriam as janelas altas horas, enfurecidos, decididos a comprar uma briga com quem fosse o responsável por aquela confusão. 

Mas quando viam a carroça era uma surpresa: ela não tinha cavalo e nem carroceiro, andava sozinha a esmo na neblina, com a sua bateção infernal. Os moradores mais antigos reconheceram a carroça. Seu dono era um sujeito que dedicava os dias a juntar ferro velho pela cidade e famoso por maltratar o cavalo a relhaços, além de lhe obrigar a puxar a diligência com insuportável peso.

Dizem que certo dia uma força maligna apossou-se do animal, e enfurecido matou seu dono com um coice na cabeça. Logo em seguida disparou e nunca mais foi encontrado. A carroça ficou vagando pela eternidade, levando seus cacos sem um cavalo a puxar.

E não tinha remédio para a confusão, cada vez que os barulhos do além tiravam o sono dos moradores na madrugada, não havia reza ou simpatia que chegasse a tempo. O jeito era se esconder dentro de casa e esperar que a carroça sumisse na mesma neblina de onde veio, seguindo seu caminho rumo ao desconhecido.

Curiosidade: São Francisco é uma cidade repleta de lendas urbanas.

“Diversas pessoas, que dizem já terem presenciado o fenômeno paranormal, relatam que a noite a carroça aparece em meio a um grande nevoeiro e pode se ouvir um barulho imenso.” Fernando Covre.