Blog Do Mistério

A lenda das sangas de Cachoeira

10/08/2023 08:46 - por Gisele Wommer

Entre os meandros da Cachoeira do Sul, ergue-se uma lenda que se enreda nas águas das sangas e nos sussurros das árvores. É a Lenda das Sangas da Inês e da Micaela, duas almas que, em vida, foram rivalidade intensa e em morte, tornaram-se presenças misteriosas.

Há muito tempo, naquele cenário de beleza selvagem, viveram Inês e Micaela, cujas vidas se entrelaçaram de uma forma obscura. Inês, levava uma vida feliz nas proximidades de uma sanga ao lado do português Manoel, seu marido. Mas tudo mudou quando ele adoeceu de maneira inexplicável e partiu deste mundo. Ecos de corujas pousando nos tocos carcomidos e soltando pios lúgubres acompanhavam as suas noites de desolação.

Uma noite, uma voz vinda das sombras trouxe revelações perturbadoras. A voz acusou a cabocla Micaela de ser a responsável pela moléstia do homem de Inês. Micaela, figura enigmática que vivia à margem de outra sanga, habitava um rancho solitário envolto em mistérios. Inês, enfurecida pela revelação, foi à Aldeia em busca de respostas, onde encontrou confirmação para as alegações contra Micaela, bem como da relação amorosa que esta manteve com seu marido. Assim, nasceu a rivalidade entre as duas mulheres.

O ódio entre elas cresceu ao longo dos anos, levando a confrontos ásperos e discussões intermináveis. À medida que o tempo passava, suas almas adquiriam uma sombria determinação. Mesmo após a morte, ambas nas ruínas e na solidão, Inês e Micaela não encontraram descanso. Dizem que seus espíritos, enredados pelo rancor, emergem das sangas todas as noites, mãos fantasmas desenterrando as margens das águas, como se quisessem se encontrar para continuar sua batalha eterna.

As sangas, antes tranquilas e estreitas, por tempos foram fendas profundas que se estendiam na direção da cidade. A da Inês, uma trilha sombria de águas corrompidas, ameaçava engolir a estrada do Seringa, enquanto a da Micaela, mais feroz ainda, avançava em direção à cidade com voracidade incontrolável. 

A população, consciente das lendas que ecoavam pela cidade, observava a progressão das sangas com crescente apreensão. Dizia-se que, quando as sangas finalmente se encontrassem, a cidade desapareceria no abismo que as almas de Inês e Micaela estavam cavando. Os habitantes, divididos entre ceticismo e medo, contemplavam a evolução das sangas, lembrando-se de que as lendas muitas vezes têm raízes na realidade.

Assim, as lendas da Cachoeira do Sul misturavam-se com a própria natureza da paisagem, traçando uma narrativa de rivalidade, tragédia e fantasmas. As sangas eram testemunhas silenciosas da batalha entre as duas mulheres, e o destino da cidade pendia no equilíbrio frágil de suas histórias entrelaçadas e as águas furiosas que cavavam caminho para o abismo. 

A Lenda das Sangas da Inês e da Micaela precisa permanecer viva, contada pelas gerações que enxergavam, nas forças da natureza, a dança eterna das almas perdidas.

 

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