Blog do Mistério
O vilarejo excomungado
Poucos lugares no mundo carregam uma sentença eterna como Trasmoz, na Espanha. A sombra que paira sobre esse vilarejo não é apenas simbólica: é eclesiástica. Escondido entre as montanhas de Zaragoza, com menos de uma centena de almas que insistem em chamar aquele pedaço de terra de lar, Trasmoz não apenas foi esquecido pelo tempo, mas deliberadamente rejeitado pela Igreja. Em pleno século XIII, não foi um homem ou uma heresia que despertou a fúria dos religiosos: foi um lugar. Um vilarejo inteiro, amaldiçoado com o peso de uma excomunhão oficial.
O motivo? Bruxas. Ou, ao menos, o que se dizia serem bruxas. Dizem que, nas noites sem luar, figuras encapuzadas subiam a um antigo castelo para rituais sussurrados, velas acesas em fileiras de ossos e caldeirões fervendo com líquidos que jamais se resfriavam. O Castelo de Trasmoz, hoje transformado em museu, foi outrora palco desses encontros malditos, ou, quem sabe, apenas o cenário perfeito para alimentar a superstição e o medo. O certo é que a Igreja local agiu rápido. E com severidade. Não houve exorcismo, apenas condenação. E o papa selou o destino de Trasmoz como se selaria uma cripta.
O mais inquietante é que essa sentença jamais foi revogada. Enquanto o mundo mudava, papas morriam e impérios ruíam, Trasmoz continuou condenado. Aquilo que começou como castigo tornou-se parte da identidade do povoado. Os moradores, longe de renegar sua fama, aprenderam a conviver com ela, e também a lucrar. Turistas percorrem suas ruas íngremes buscando assombrações e fragmentos de feitiçaria, comprando amuletos e ouvindo histórias que parecem ter sido sopradas por fantasmas.
Mas há quem diga que certas energias não devem ser alimentadas por curiosidade. Que alguns visitantes nunca mais foram os mesmos após passar a noite no antigo castelo. Os guias raramente respondem a perguntas sobre rumores de velas que às vezes se acendem sozinhas ou sobre o som de risos femininos que ecoam das muralhas em noites diversas. São lendas, dizem eles. Histórias para atrair o público, talvez seja verdade, talvez não.
Hoje, quem visita Trasmoz encontra uma paisagem encantadora, cheia de casas de pedra, ruas silenciosas, um castelo no alto de uma colina. Mas sob essa serenidade repousa um segredo que nem o tempo, nem a fé, conseguiram enterrar. Afinal, não é todo dia que se pisa num lugar oficialmente renegado por Deus. E, talvez, por isso mesmo, seja impossível sair de lá sem levar um pouco da maldição consigo.
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A fada lavadeira
Esta história vem de longe, muito longe, seu terror atravessa o oceano.