Blog Da Poesia

Nicanor Parra

18/08/2021 09:00 - por Tiago Vargas

Nicanor Parra nasceu em 5 de setembro de 1914 em San Fabían de Alico, sul do Chile. Era o mais velho de 5 irmãos, entre eles, a cantora, poetisa e artista visual Violeta Parra. Nicanor foi matemático, físico e poeta. Agraciado com o Prêmio Miguel de Cervantes em 2011, foi três vezes indicado para o Nobel de Literatura. Escreveu mais de 20 livros, com destaque para ‘’Poemas e antipoemas’’, obra revolucionária no campo lírico caracterizada por inovações verbais e considerado por críticos especializados como a publicação mais importante da poesia latino americana do século XX. Foi um representante da cultura popular e da democratização do gênero. Principalmente por desafiar o vanguardismo histórico de seus compatriotas Pablo de la Rokha, Vicente Huidobro, Gabriela Mistral e Neruda. Poeta singular.  Admirado por Allen Ginsberg seus escritos se harmonizam com o pensamento de Camus. Contrário a altivez luminosa textual da poesia clássica. Poesia sem amarras. Seus versos se caracterizaram pelo estilo crítico, inovador, questionador, irônico e sobretudo, pela aversão da vaidade metafísica.

1
Já que não me resta nada por dizer
Tudo o que eu tinha pra dizer
Foi dito não sei quantas vezes.

2
Eu perguntei não sei quantas vezes
Mas ninguém responde minhas perguntas.
É absolutamente necessário
Que o abismo responda de uma vez
Porque o tempo está ficando curto.

3
Só uma coisa é clara:
Que a carne se enche de vermes.
Nicanor Parra

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O silêncio dos sensatos
A coragem não é como a covardia,
embora o covarde a tenha.
Há que se ter coragem em ser assim.
A covardia, essa ignomínia, 
não é como o medo.
Que não é o oposto da coragem,
que não teme a covardia.
Mas há a coragem covarde!,
aquela coragem rasa, efeito da multidão,
empurrada pela empolgação da inércia,
naqueles movimentos de manada...
Nestes momentos, se fez de tudo, meu amigos!
Parece ter sido assim, a história pouco varia.
O ovo da serpente eclodiu novamente , e
lá vamos nós nos tapar de dor,
e olhar para o outro lado da rua,
nos apartando em tantos outros,
que no fundo são nós.
Teremos mesmo que parir a noite e o silêncio?
E desejar ser como Eles, que não nos querem?
Pelo amor de seja lá quem for:
Não é hora do silêncio dos sensatos!
Bagual Silvestris


Loucuras da vida:
Enlouquecer é suplicar que a noite
escolha entre a lua e as estrelas.
É uma insanidade a tentativa de convencer
o mar a render-se a inércia
desfazendo sua natureza original.
Loucura é duvidar que se é livre
desconhecendo que a dúvida
é uma manifestação da liberdade.
É contraditório ter a habitação
do eterno no coração mas traçar
um destino alicerçado na finitude.
É um delírio vislumbrar
uma pluralidade de caminhos
sendo que a verdade é singular e imutável.
É uma incoerência desejar apenas para si
a beleza de um pássaro
privando o infinito do seu canto.
Gabriela Vidal Domingues

Das tardes
Monossílabas
Farto fogo
Em exilio
Rente ao céu
Abarca mundo ausente
Sobremaneira
Sem refúgio
Na grafite fria
Da escrita.
Cris Mb


Há o pó e a hipocrisia
Mas por divina sorte
Também há a poesia.
Edison Botelho


Sentido
Leve é amar
Brutal é a pedra
Sutil é agradar
Sagrado é sentir
Ouvir é saber
Puro é realizar
Alegria é reluzir
Amargo é ver
Demais e sumir
Gerson Nagel

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