Blog do Mistério
A sombria jornada da anestesia: de pauladas na cabeça ao conforto moderno
Para hoje não temos lendas e nem enigmas obscuros. Vamos falar de algo mais assustador: fatos reais. A vida é medonha, prezado leitor.
Numa recente adaptação do Drácula para a Netflix, há uma parte em que o Conde vem parar nos dias atuais. Ele é recebido em uma praia com helicópteros, luzes e armas de última geração apontadas para sua cabeça (perdão pelo spoiler). O Conde, obviamente, não se assustou; pelo contrário, perguntou em que ano estava e disse que tinha certeza de que nós, humanos, evoluiríamos muito. Bem, ele fazia ideia.
Será que o Conde, o famoso empalador, vindo dos campos de batalha da insana guerra contra os otomanos, pensou também em como a medicina evoluiria com o passar dos anos, especificamente, a anestesia? É comum vermos em filmes e séries antigas soldados mordendo pedaços de pau, tiras de pano ou sendo obrigados a se entupirem de bebidas alcoólicas enquanto pseudo-curandeiros realizavam em seus corpos as mais estranhas e doloridas manobras. O mesmo se aplicava a tantos acontecimentos nas épocas anteriores à Idade Moderna. Para chegarmos à tranquilidade de passarmos por uma cirurgia sem sentir dor alguma foi um longo, longo trajeto de testes e experiências assustadoras:
A China antiga optava por drogar pacientes com haxixe, o Egito com ópio. Havia relatos em alguns países de uma mistura de vinho com mandrágora (que é venenosa) para adormecer pacientes. Antes disso, havia as pauladas na cabeça (não é brincadeira) e os esganamentos, tudo visando deixar a pessoa quase desmaiada, ou bem desmaiada, para poder operá-la em qualquer que fosse o caso. Se sobrevivesse à anestesia, depois ainda tinha que lutar com o problema que a levou a ser anestesiada. Digamos que eram duas batalhas em uma.
No século XIX, iniciaram os testes com dióxido de carbono. O paciente era privado de ar, ou sufocado, como preferir, antes de uma cirurgia. Este método logo se provou ineficaz e extremamente perigoso, pois muitas vezes levava o indivíduo a óbito.
Quase na virada do século XX, o queridinho da vez era o clorofórmio, mas acabou virando apenas elemento de romances de mistério quando ceifou a vida de muitas pessoas saudáveis. Parecia divertido quando os pesquisadores começaram a cheirar a substância e a testar em si mesmos e seus familiares. Os problemas que o uso causou a vários órgãos só foram associados à substância mais tarde e seus testes foram cancelados.
Até chegarmos aos medicamentos utilizados com segurança atualmente, o éter teve sua vez de glamour. A substância foi comprovada como muito eficaz e utilizada por muitos anos em cirurgias mundo afora e virou modinha. Nos Estados Unidos, existiam casas noturnas que faziam festas regadas a éter. Os participantes cheiravam até ficarem embriagados e alguns inconscientes. Depois de muitas mortes, os efeitos colaterais do éter foram atestados e governos lançaram leis que restringiram a venda da substância. Hoje ele é utilizado com outros fins.
Então, leitor, quando levar aquela picadinha na cadeira do dentista para fazer um procedimento qualquer, lembre-se que foi um longo e sombrio trajeto até podermos nos dar a este luxo. O conde Drácula não tem como não estar orgulhoso.
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