Blog dos Espíritos

O Inferno

08/08/2022 10:30 - por Eleni Maria Machado

Intuição das penas futuras


Em todos os tempos, o homem acreditou, por intuição, que há vida futura e que essa deverá ser feliz ou infeliz, em razão do bem ou do mal que se fez neste mundo. O desenvolvimento do seu senso moral e o progressivo aprimoramento da noção de justiça, faz com que a ideia do bem e do mal fique cada vez mais clara; as penas e as recompensas são o reflexo dos seus instintos predominantes.

Enquanto o homem está dominado pela matéria, não pode, senão imperfeitamente, compreender a espiritualidade e é por isso que ele faz das penas e dos gozos futuros um quadro mais material do que espiritual; imagina que se deve beber e comer no outro mundo, mas melhor do que na Terra, e de coisas melhores.

O homem primitivo não podia conceber além do que via e reproduziu o futuro baseado no presente; para compreender melhor necessitava de um desenvolvimento intelectual que só o tempo lhe daria. Não estando ainda desenvolvido o sentido que deveria fazê-lo compreender o mundo espiritual, somente podia projetar penas materiais, reflexo dos males da humanidade.

Para tais homens seriam necessárias crenças religiosas adequadas à sua natureza rude. Uma religião muito espiritual, baseada no amor e na caridade, não teria encontrado ressonância na alma ainda embrutecida. Não censuremos, pois, a Moisés pela sua legislação rígida para conter seu povo indócil, rebelde, nem de ter feito de Deus um Deus vingativo. Era necessário!

Onde está situado o inferno?


Há um lugar circunscrito no universo destinado às penas e aos gozos dos Espíritos, segundo seus méritos? As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um possui em si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou infelicidade, e como eles estão por toda a parte, nenhum lugar circunscrito, nem fechado, não está destinado nem a um nem a outro.

Segundo isso, o inferno e o paraíso não existiriam tal como o homem o representa? São somente figuras: há por toda a parte Espíritos felizes e infelizes. Os Espíritos se reúnem por simpatia; e, quando são perfeitos, podem se reunir onde querem.

Culpa e castigo


Que é o culpado? É aquele que por um desvio, por um falso movimento da alma, se distancia do objetivo da criação.

Que é castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma soma de dores necessária para desgostar o culpado pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que excita a alma, pela amargura, a se curvar sobre si mesma e a retornar para o caminho da salvação. O objetivo do castigo não é outro senão a reabilitação, a libertação. Querer que o castigo seja eterno, por uma falta que não é eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.

Excitar o homem a praticar o bem e se afastar do mal pelo engodo de recompensas e pelo medo dos castigos, a razão lhe fará rejeitar por não mais acreditar. Se, ao contrário, o futuro lhe for apresentado de maneira lógica, racional, ele não o rejeitará. O Espiritismo nos dá essa explicação.

A doutrina da eternidade das penas, no sentido absoluto, faz do ser supremo um Deus implacável. Seria lógico reconhecer que um soberano é muito bom, muito benevolente, muito indulgente e que não quer senão a felicidade daqueles que o cercam, mas que, ao mesmo tempo é ciumento, vingativo, inflexível no seu rigor e que pune com suplícios extremos grande parte dos indivíduos por uma ofensa ou uma infração às leis que lhes eram desconhecidas? Não seria isso uma contradição? Pode Deus ser menos bom do que seria um homem?

Considerando, ainda, que Deus tudo sabe, sabia que criando uma alma, essa faliria; ela foi, portanto, desde sua formação, votada à infelicidade eterna? Isso é possível? É racional?

Com a doutrina das penas relativas tudo está justificado. Deus sabia, sem dúvida, que ela faliria, mas lhe dá os meios de se esclarecer por sua própria experiência, por suas próprias faltas. É necessário que ela expie seus erros para ser melhor a cada dia e consolidar-se no bem, mas a porta da esperança não lhe é fechada para sempre e Deus deixa a ela o mérito por seus esforços para alcançar a libertação. Eis o que todos podem compreender, o que a lógica, a mais meticulosa, pode admitir. Se as penas futuras tivessem sido apresentadas sob este ponto de vista, haveria bem menos céticos.

Das penas e gozos terrestres


Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra? Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.

Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso não se verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa? O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, de muitos males se resguardará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.

Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária e facilmente se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la.

(O Céu e o Inferno, Primeira Parte; O Livro dos Espíritos, Parte IV; Blog dos Espíritos, O Céu, 01/08/2022)

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